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1Q84

Primeiro, a Sinfonieta de Janacek parece ter deixado Aomame em estado de transe. Depois, cortar caminho através de uma saída de emergência, durante um engarrafamento no elevado, parece a ter levado a um mundo paralelo ao seu, onde as coisas são sutilmente diferentes. Alguns detalhes, acontecimentos passados, mas nada muito importante, a faz pensar que aquele não é mais o ano de 1984 e sim 1Q84 (Editora Alfaguara, tradução do japonês de Lica Hashimoto). Misturando ficção científica com realismo fantástico, Haruki Murakami constrói uma trilogia que pode causar estranheza ao mesmo tempo que muita curiosidade pela história, assim como por seus personagens.

A trama da trilogia gira em torno de dois personagens principais: a assassina de aluguel, Aomame, e o escritor Tengo. Ambos notam sutis mudanças no mundo em que vivem e está bem claro que eles não vivem na mesma realidade, mas elas estão se aproximando. Aomame mata homens que abusaram de mulheres. Tengo é o ghostwriter de uma talentosa escritora adolescente, que precisa ter seu texto limpo e pronto para participar de um prestigiado prêmio literário. Apesar de terem vidas normais, (no caso de Aomame, quase normal), Harukami vai construindo seu mundo modificado aos poucos. No início com muita sutileza, mas, conforme aprendemos sobre o que está acontecendo, os elementos fantásticos começam a tomar conta da história, deixando dúvidas sobre o que está sendo contado.

De pano de fundo, Murakami conta a história das comunidades fundadas 10 anos antes, chamadas Sakigake. Criadas por um grupo de extremistas que entraram em conflito com a polícia e fugiram para as montanhas. Isolados do resto do país, começaram a surgir facções dentro dessas comunidades, onde ninguém sabe o que acontece lá. As histórias de Aomame e Tengo começam a se emaranhar com a da Comunidade Sakigake, fortalecendo o elemento fantástico do livro e aumentando a curiosidade sobre o que realmente está acontecendo com os dois personagens.

Apesar de ter uma enorme influência da cultura ocidental, o texto de Murakami ainda pode causar estranheza aqueles que não estão acostumados com a literatura asiática. Mas assim que essa primeira barreira cai, o que acontece muito facilmente, nós somos brindados com uma história que muda de tom a cada personagem. O mundo de Aomame é dinâmico, moderno, e as situações e cenários criados pelo autor lembra um anime. Já o mundo de Tengo é calmo, mais próximo do tradicional, com conversas longas e muitas ponderações. Conforme esses dois mundos começam a se fundir, é possível notar característica de um invadindo o outro. É incrível que ele faça isso através das palavras, como se pode realmente ver o que ele está construindo.

1Q84 é uma experiência que vai muito além das palavras. Murakami brinca com elas, passeando com facilidade entre as influências da cultura pop e o tradicionalismo japonês, mas de uma forma muito original que consegue passar muito longe dos clichês.

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