Resenhas

A Ditadura Acabada

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Quinto volume da série de Elio Gaspari sobre a Ditadura Militar é imperdível

Quando adolescente tinha uma dúvida na cabeça: jornalismo ou história? Dessa dúvida, que me acompanha, surgiu uma linha de leitura e o começo da construção de minha biblioteca particular. Comecei a ler muito sobre a ditadura militar brasileira, passou a ser um assunto que me interessava mais do que tudo, comecei com “Batismo de Sangue” de Frei Betto e segui lendo e comprando livros sobre essa época e seus personagens. Já na faculdade de jornalismo, fazendo meu estágio no Jornal do Brasil, Elio Gaspari lançou os primeiro livros de sua série sobre a ditadura militar, li os quatro livros na semana em que foram lançados, os devorei e os recomendo a todos os amigos desde então. Quando li, no final de 2015, que Gaspari estava prestes a lançar o quinto volume da série fiquei contando os dias para ter os livros na mão, fui dessas que comprou na pré-venda e ficava aguardando o carteiro chegar. “A Ditadura Acabada” valeu toda a espera, o ultimo ato da ditadura militar, a abertura, a anistia e a vitória de Tancredo Neves no colégio eleitoral está tudo lá contado com a ótima prosa que característica de Elio Gaspari.

O livro começa onde o anterior, “A Ditadura Encurralada”, termina, ou seja, com a crise entre o presidente Geisel e Silvio Frota. Era a crise entre um presidente que começava a ensaiar uma abertura e a linha dura do regime. Geisel ganhou e começou a estruturar a abertura gradual, no seu plano entrava a escolha de João Figueiredo como próximo presidente, eleições diretas para o legislativo, maioria no colégio eleitoral para a garantia do poder do regime até o final da década de 1980. No final do governo Geisel a crise econômica e o começo do que viria a ser chamado de década perdida já se iniciava, a crise do petróleo, a disparada da dívida externa e a crescente inflação, tudo já se apresentava e estouraria no colo de Figueiredo. Tudo isso é história e eu não tenho a mesma capacidade de Gaspari para transformar tudo isso em algo envolvente.

A parte que mais me interessava era a reação militar a abertura, as cartas bombas, o atentado no Riocentro e, posteriormente, toda a articulação que elegeu indiretamente Tancredo Neves. está tudo lá nas quase 400 páginas do livro. Como o atentado do Riocentro foi uma pecinha na desmoralização do “porão” e contribuiu para o seguimento da abertura gradual. Expõe a rivalidade amigável entre Tancredo e Ulysses Guimarães e como o político mineiro articulou muito e habilmente para ganhar a candidatura e se eleger presidente. A agonia de Tancredo está lá também, sua internação e morte que levaram choque ao país e José Sarney a presidência.

No capitulo final Gaspari faz um apanhado de o que aconteceu com 500 pessoas chave que povoaram seus cinco livros. É interessantíssimo ver os que se mantiveram fieis a seus ideais, os que pularam de lado, os que nunca viraram oposição, os que sobreviveram, os que sucumbiram, os que se tornaram presidentes. Estão todos lá em um texto rápido de suas trajetórias. É também a parte do livro que dá uma certa dor no coração, dor em saber que não nos reconciliamos com o nosso próprio passado, que deixamos tantos crimes impunes, que não condenamos crimes cometidos como política de Estado. Parte do que Gaspari fala sobre a “tigrada” é explicitada também em “Porões da Contravenção” o que mostra que mesmo 30 anos depois que o último presidente militar deixou o governo ainda temos muito o que entender e tentar reconciliar, ainda temos desaparecidos demais.

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