Resenhas

A Noite do Meu Bem

a noite do meu bemHá livros que deveriam vir com trilha sonora e “Noite do Meu Bem” de Ruy Castro é um desses. Ruy conta a atmosfera de Copacabana e suas boates de meados da década de 1940, quando o jogo é proibido, até seu total declínio em meados de 1960 com a chegada dos militares ao poder. São vinte anos de muito samba-canção, uísque, cigarro e boemia que fizeram o nome de Copacabana para o Brasil e mundo.

Um dos grandes méritos de Ruy Castro como escritor é conseguir transportar seu leitor para os ambientes que descreve, é assim nas ótimas biografias de Garrincha, Chatô e Carmen Miranda. Nesse livro isso é ainda mais necessário, ele não está falando de uma pessoa e sim de uma época, de uma atmosfera que levou a nossa música a se modificar, lançou cantores, tendências e se eternizou em um folclore que se lê em livros como o de Fernanda Torres sobre os boêmios de Copacabana.

Sou uma estranha figura no meu circulo de amigos, alguém que tem no playlist sempre uma música de Dolores de Duran e Elizeth Cardoso, que consegue diferenciar pela voz Dick Farney e Lúcio Alves. Com esses gostos musicais esse livro é perfeito pra mim. Sei de quem Ruy fala, cantarolei todas as letras que as paginas contém, muitas delas já constam no meu ipod. Dito isso não sei quão simples é para um leigo mergulhar nesse universo de amores desfeitos, dor de cotovelo e lindas harmonias. Encantar-se com o Clube dos Cafajestes e suas farras, com as muitas doses de uísque, com os casos e a relação entre a noite e o poder é fácil, compreender e ouvir sair das páginas a trilha sonora de uma época é algo um pouco mais complicado.

Ruy vai mostrando como nesses anos os hábitos mudaram, o picadinho e o strogonoff foram introduzidos da vida nacional, a importância de imigrantes fugidos da guerra como o pianista Sasha e, principalmente, o barão Stuckart e seu Vogue mudaram a noite do Rio, colocaram Copacabana no cenário mundial e desencadearam uma mudança musical e comportamental. Eram os anos de ouro do Rio que gerariam a bossa nova e acabariam com os militares chegando ao poder. É a crônica de uma época envolta por toda uma aura de glamour que encanta.

Sei que sou o público alvo desse livro e talvez meu encantamento não seja compartilhado por alguém que nunca tenha ouvido Dalva de Oliveira cantar “Ninguém precisa saber, / O que houve entre nos dois, / O peixe é pro fundo das redes, / Segredo é pra quatro paredes,” ou Ataulfo Alves “Gostei de uma linda criatura/ Sem moral, sem compostura / Sem coração, sem pudor / E eu dono do negócio / Sem saber que havia um sócio // Na firma do nosso amor”. Alguém que não saiba o que era cantar para um auditório na Rádio Nacional e a mudança que foi cantar em ambientes pequenos como o Vogue, o Sasha’s, o Meia Noite. O que posso dizer é que devorei as páginas com a mesma rapidez com que esse boêmios bebiam doses de uísque. Meu ipod ganhou novas musicas e eu ando há semanas cantarolando lindos sambas-canção.

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