Resenhas

Alta Fidelidade


Alta Fidelidade, do escritor britânico Nick Hornby, famoso por misturar suas paixões (futebol, música, cinema) ao tema amor, é um livro de 1995, sobre um homem com dificuldades de aceitar a vida adulta e que precisa de um choque de realidade para poder amadurecer. 23 anos depois, ele ainda é muito atual, com toda a discussão sobre a fragilidade masculina e a dificuldade que boa parte dos homens acima de 30 anos tem em amadurecer emocionalmente. Lançado no Brasil pela editora Rocco em 1998, traduzido por Paulo Reis, conhecemos um homem que sofre por amor e lista seus sofrimentos para poder compreender sua situação atual. Rob Fleming, dono de uma loja de discos de vinil em Londres, já conta logo de cara seus cinco piores rompimentos de namoros. Aqueles que o mais fizeram sofrer, para mostrar a Laura, sua atual namorada, que ela não merece estar naquela lista, mesmo quando no capítulo seguinte se descobre que Laura está indo embora.

Com uma linguagem moderna, recheado de citações a cultura pop atual, pontuado por cenas rápidas e cortes que lembram a linguagem cinematográfica, Alta Fidelidade mais se assemelha a um filme, ou a um roteiro de cinema, do que a um romance em si. Nele, Nick Hornby nitidamente fala de sua geração para a sua geração, que cresceu e foi criada ouvindo música pop e vendo televisão. Outro ponto que fica bem claro no livro, é Hornby mostrar que, exatamente por fazer parte de uma geração meio sem grandes aspirações, fica difícil para seu personagem, um homem de 35 anos, se desligar do passado. Sua linguagem ágil, seus personagens de fácil identificação e a abertura para uma boa trilha sonora levaram o livro a um caminho quase que óbvio, o cinema. Em 2000, Alta Fidelidade ganhou às telas do cinema em uma versão dirigida por Stephen Frears e com John Cusack no papel principal.

Voltando ao livro, o que se percebe é que tudo à volta de Rob acabam sendo metáforas que mostram ao leitor como está sendo difícil para ele deixar a juventude de lado, principalmente seus sonhos quase impossíveis, e se tornar um adulto com responsabilidades reais. A loja de discos de vinis, numa época em que o CD surge (o livro foi escrito em 1995), é o fato mais claro dentro desta lógica. Enquanto sua namorada se torna uma advogada séria, com planos concretos para o futuro, Rob continua pensando em suas intermináveis listas de cinco coisas favoritas, a maioria relacionada à música. Seus melhores amigos são Dick e Barry, que trabalham para ele na loja de discos e que têm uma vida muito semelhante a sua.

Ao mesmo tempo, quando Rob lista seus piores términos de namoros e depois, quando Laura já o deixou, decide mais uma vez arrumar sua coleção de vinis, fica nítido que essa é sua maneira de refletir sobre sua vida. Sobre como ele está preso a suas convenções e como ele deve se libertar de parte delas para poder ter o que realmente quer, Laura. Seu sofrimento é legítimo, e aqui Hornby mostra que as angústias de Rob são as mesmas de sua geração. Que nunca lidou bem com um sofrimento verdadeiro, apenas através de canções e filmes. Que para as pessoas dessa geração às vezes é difícil lidar com o amadurecimento. Todo esse pensamento se resume a fala mais emblemática de Rob no livro: “O que veio primeiro, a música ou a angústia? Preocupam-se com crianças brincando com armas, vendo filmes violentos, como se a cultura da violência fosse consumi-las. Ninguém se preocupa se elas escutam milhares, praticamente milhares de canções sobre sofrimento, rejeição, dor, angústia e perda. Eu ouvia música pop porque era infeliz, ou era infeliz porque ouvia música pop?”.

O curioso, que apesar de todo o sofrimento de Rob, Alta Fidelidade se trata de uma comédia romântica, Nick Hornby não perde o bom humor e nem o tom ácido, tão comum à cultura inglesa. É genial ver Rob ir atrás das antigas namoradas que o largaram. O que poderia ser uma parte de introspecção e total seriedade do livro, torna-se uma das mais divertidas e interessantes, já que aguça a curiosidade do leitor em saber se a idéia do personagem dará certo. Aqui, ao mergulhar fundo em seu passado, Rob consegue ver melhor seu futuro e o que deve fazer para ter Laura de volta.

Por fim, Alta Fidelidade é uma reflexão sobre amadurecer, sobre aceitar a culpa por seus atos, assunto muito comum nas obras de Hornby. Além de ser um delicioso passeio pela cultura pop, relembrando a Londres do fim dos anos 1990.

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