Coluna

Bauman, Carpe Diem e picolé de limão

Já tem algum tempo que eu sinto como se o piso sob meus pés fosse feito de blocos de areia, como se a qualquer momento ela pudesse decidir ruir sem me avisar. Tenho a mesma sensação quando penso na vida, carreira, nos amores, nas amizades e na família. Sei que Bauman falava de modernidade líquida, mas não é nem esse o ponto. Ou talvez seja? Tá tarde aqui e minha cabeça pode estar um pouco mais confusa que o normal, confesso, mas vou tentar ser menos contraditória do que o de costume. Então… nós estávamos falando sobre o que mesmo? Ah, Bauman e minha insegurança!

Pois é… não acho que estejamos vivendo momentos superficiais, a gente nem os trata dessa forma. Eu, pelo menos, gosto de pensar que nada é trivial. Bem verdade que não sou exemplo, nem posso falar pela sociedade, muito menos pela maioria, e quem sou eu para contrariar Bauman?, mas estou cada vez mais inclinada a ver o oposto da fragilidade nos laços humanos. Veja pelo nosso lado emocional…

Estamos completa e perdidamente apaixonados. Seja por nós mesmos, pelo outro, por chocolate, pela internet ou pela sórdida vontade cega de acreditar em alguma coisa, e a paixão, não importa o quanto ela seja ilógica, cria laços fortes com o que quer que seja. Ou isso tudo é uma impressão apaixonada da minha parte?

Vai me dizer que não estamos querendo todos gritar? Que não estamos todos querendo ser ouvidos? Eu vejo dia após dia um monte de gente querendo resolver agora o que não pode ser resolvido tão depressa (pelo menos em termos evolutivos), e mesmo assim isso não diminui o tom de suas vozes nem fraqueja suas ambições. Mas eu entendo. Queremos nossos direitos, que modifiquem as leis ultrapassadas e estúpidas, que adaptem o pensamento e que sejamos todos aceitos independentemente das nossas diferenças.

Isso é apaixonante!

Sabe uma coisa que eu sempre ouvi desde pequena de tudo quanto é lado? Na escola, em casa, dos filmes, no teatro, nas novelas, nos desenhos animados e até nos videogames?! “Viva o presente!” “Carpe diem” e o caralho a quatro. E sabe o que a geração de agora tá fazendo? Vivendo a droga do presente! E o que a galera das antigas resolveu fazer? Reclamar dos millennials! Macacos me mordam! Não era o que a galera vintage queria e mandava os xóvens fazer? Então agora aguenta! Ora bolas!

Tudo bem que o pessoal se planeja menos, vive “tempos líquidos”, não sabe o que fazer da vida porque tudo acaba muito rápido, e aí decide trabalhar com o que “ama” porque, afinal, “a vida é curta e sou muito mais ser feliz”, ora… se isso não é paixão, ainda que de mãos dadas com a insegurança, não sei mais o que é.

Sinceramente, eu não sei o que vai sair dessa paixão toda, até porque o pior cenário disso é a galera que prefere discutir sem raciocínio lógico e condena a todos de forma perpétua sem chance de remissão, como já comentei aqui, e isso é o que mais tem me esgotado nos últimos tempos… Não poder contar com argumentação, com cenários em que as pessoas não vão explodir nem se fechar ao mínimo sinal de controvérsias, me assusta e me tira o chão. Ou tem um chão, porém feito de areia, como eu falei no início.

Mas o melhor cenário disso, eu me pergunto?

Talvez a gente devesse ver os dias de hoje como as camadas de um picolé de limão. Um tal de gelado que derrete, azedinho, mas doce, um duro que se desfaz e um grude que fica nas mãos, mas que vale a pena.

Desculpe-me, Bauman, mas queria eu não estar apegada aos meus relacionamentos na vida, viver amores líquidos de fato e que eles não durassem dentro de mim e eu não precisasse mais pagar psicólogos por conta deles.

Sei lá… tá tarde, e eu posso estar confusa.

Mas queria eu não viver uma eterna relação de picolé de limão com a vida, carreira, os amores, as amizades e a família. Deixa estar. Talvez essa paixão toda nos leve a algum lugar… quem sabe?

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