Resenhas Televisão

Big Little Lies

Fui ler “Pequenas Grande Mentiras” porque a HBO anunciou a adaptação, ao lê-lo criei uma super expectativa para a série de David E Kelley. “Big Little Lies” é uma ótima série, uma daquelas adaptações que deixam qualquer leitor feliz. Esse texto será repleto de spoilers que tratam da transição entre as páginas e a telinha.

Não sou dessas que acredita que uma boa adaptação precisa transpor cada detalhe que está no livro para ser boa, pelo contrário, acho que boa adaptações devem ser feitas respeitando a mídia em que estão. Adorei que a estrutura narrativa foi mantida, mostra-se o que aconteceu e depois, nos depoimentos, o que as pessoas acham que aconteceu. Isso faz com que o mistério do quem morreu e quem matou seja mantido e toda a crítica implícita sobre se julgar os outros também.

O que mais me incomoda nessa transição está na relação entre Perry e Celeste. No livro você já desenvolveu a visão de todos de que eles são o casal perfeito antes de descobrir que é uma relação abusiva, na série isso é colocado já no primeiro episódio e com uma ataque bem mais violento do que todos descritos no livro. A caracterização de Perry (Alexander Skarsgård) beira ao caricato na série, sua violência vai escalonando e ele se aproxima cada vez mais de um psicopata do que qualquer outra coisa. Funciona na TV, só poderia ser bem mais interessante se seguisse o roteiro do livro onde o leitor leva um susto quando descobre que o casal não é perfeito e mais, que a violência existe e mas não é uma surra incapacitante. No livro Celeste não busca ajuda porque as agressões estão ficando mais violentas, busca porque elas são constantes e ela sabe que não pode mais permitir que isso continue, ela busca uma psicóloga que trabalha em um centro de ajuda a mulheres, com isso a ideia de deixar Perry surge dela e não de alguém externo, a mensagem é mais interessante dessa forma. Nicole Kidman rouba a cena, do terceiro episódio em diante a série é dela. É trabalho parara concorrer e ganhar alguns prêmios.

Reese Witherspoon e Shailene Woodley funcionam muito bem como Madeline e Jane, a primeira é o motor que faz toda a história girar e Jane está no seu processo de recuperação. Reese está perfeita como Madeline, a mulher que compra as brigas e vai até o fim, a relação com Ed e com a filha foi transportado para a TV como foram escritos. Dos subplots que giram em torno dela dois não fazem muito sentido como narrativa para a série e não existem no livro: a infidelidade dela e a animosidade entre Ed e Nathan. Achei a primeira meio sem solução durante a narrativa e a segunda desnecessária.  Jane é um pouco mais perturbada por seu passado no livro do que na série, nada que faça muita diferença. Da história de Jane o que mais senti falta foi da relação dela com Celeste sem o intermédio de Madeline.

Dos grandes acertos na adaptação está Laura Dern como Renata. No livro ela é apenas uma mãe que funciona com antagonista para Medelaine, no série ela faz parte do grupo de protagonistas e ganha bem mais dimensões. Ela deixa de ser apenas uma antagonista para se juntar a esse grupo de mulheres, ela é a que traz a culpa da mãe que trabalha, da mulher bem sucedida que é julgada pelo seu em torno por não ser tão presente, por não representar esse papel de mãe construído ao longo de décadas. Ao transformar Renata em mais uma protagonista Kelly acrescentou a história e trouxe mais um elemento para essa história que, mais do que um mistério, é uma narrativa sobre mulheres, mães, a maioria delas com mais de 40 anos, e os nossos tempos.

As crianças merecem um paragrafo só para elas. O que é Chloe e Ziggy? Os dois são tão fofos e tão encantadores que se entende com facilidade porque Iain Armitage já está escalado para ser o jovem Sheldon no spin-off de The Big Bang Theory. Chloe é a líder das crianças e faz isso com maestria, queria eu ter o gosto musical dela, um elemento que funciona muito bem na TV e dá o tom de cada episódio. Já Ziggy tem aquela cara de perdido e meigo que ideal para uma criança acusada erradamente de bullying. Além deles Amabella e Skye como meninas desamparadas funcionam mesmo sendo pouco exploradas, bem menos que no original pelo menos.

A cena final é ótima, a edição, como ela é contada, como é mostrada. Tudo faz sentido para a série e como ela foi sendo construída até chegar a morte. Mesmo tendo gostado bastante dela ainda prefiro a do livro. Nas páginas temos quase os mesmos personagens e com uma dinâmica completamente diferente. O que me faz preferir o livro é, principalmente, porque Jane enfrenta seu agressor, deixa de ser uma vítima e ali termina o seu processo de recuperação. Além disso a agressão é bem menos violenta e a reação das mulheres é igualmente automática, tem essa mensagem de que nenhuma agressão será tolerada, acho uma mensagem mais forte. Quem morre e quem mata continuam sendo os mesmos no livro e na tv.

No todo “Big little Lies” é uma grande série que merece ser vista, começa um pouco devagar, engrena mesmo do terceiro episódio em diante. Vale ver os sete episódios e depois ler o livro, ou vice e versa.

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