Coluna

Sobre ler mais do que livros

Já disse aqui mais de uma vez que a quantidade de notícias que leio ganham e muito da quantidade de páginas literárias. Tento sempre ter uma leque variado de fontes, como diz o Ian Bremmer do Eurasia Group “Se você não está seguindo algumas pessoas que você discorda, você está fazendo isso errado”, concordo muito com isso, nada é mais perigoso do que viver em uma bolha de concordância. O ultimo biênio foi complicado no mundo e aqui em terras tupiniquins e cada vez leio mais textões dizendo que estamos vivendo uma distopia. Essa recorrente afirmação me faz sempre pensar nessa vertente da ficção científica de que tanto gosto e sobre política.

Eu considero “1984“, “Admirável Mundo Novo” e “Fahrenheit 451″ uma espécie de trilogia da dominação. Orwell fala sobre a a dominação pelo medo, Huxley pela felicidade e Bradbury pela ignorância, três formas muito eficazes de ter controle e que nós vivemos em graus diferentes na realidade. Qualquer área de vulnerabilidade do mundo vive sob o domínio do medo, de um líder territorial que dita as regras e matas que as não seguir, os conflitos na Rocinha são só um dos muitos exemplos que temos. Quando perguntado sobre as razões da vitória de Clinton nas eleições, James Carville disse “the economy, stupid”, ou seja, a satisfação da população com a economia está diretamente ligada a eleição dos governantes e o silencio das ruas. Pensem na reeleição de Fernando Henrique Cardoso ou nas ruas vazias em pleno escândalo do Mensalão. A felicidade, nesse caso econômica, anestesia e faz com que as pessoas sejam menos propensas a protestos, afinal a vida está boa. No mundo em que somos soterrados por informação a cada segundo é um mundo de desinformados, ao não termos tempo de separar o que é real do que é fake news, onde preferimos acreditar em quem concorda conosco ao invés de checar fatos somos desinformados e nada é mais perigoso do que a ignorância, a falta de pensamento critico é meio caminho andado para se ser dominado.

Pintei um cenário ruim, eu sei, mas isso não significa de forma alguma que é para se jogar a toalha. O dia em que eu acreditar que nada mais tem jeito não saio mais da cama. O cenário é feio e adverso? Para as minhas convicções, sim. É complicado ver cada vez mais posições das quais eu discordo ganhando terreno? Claro que é. Dá uma vontade danada de desqualificar quem pensa diferente de mim? Chamar de burro? Dá. A questão é que volta e meia quem discorda da gente ganha e, sendo dentro do processo democrático, é legitimo. O impeachment foi dentro do processo democrático, faz parte desse processo se saber jogar com as regras. Não concorda com as regras? É hora de começar a pensar o que você pode fazer para muda-las ou, o meu caso, pensar em formas de deixa-las mais claras e dificultar a vida de quem quer jogar com elas. Chruchill disse que “A democracia é a pior de todas as formas de governo, excetuando-se as demais.” , ou seja, ela é falha mas é o melhor que temos, logo temos que entende-la e exigir mais e mais transparência. Nossa forma de controle é o conhecimento.

2017 vai caminhando para o seu fim deixando muito pouca saudade, 2018 é um ano que promete ser ainda mais intenso. Teremos eleição para presidente, governador, deputados estaduais e federais e 2/3 do senado. Quer alguma mudança para acabar com a sua desilusão com a política? 2018 é a hora. É tempo de colocar os livros um pouquinho de lado e ler noticias, tenha em mente que não existe jornalismo imparcial, nunca existirá. Reportagens são feitas por pessoas e pessoas são parciais, veículos de comunicação são privados e por isso mesmo parciais. Leia veículos e textos que abranjam todo o espectro político, do mais radical esquerdista ao mais direitista. Converse com amigos, conhecidos, familiares e ouça a verdade deles mesmo que seja radicalmente oposta a sua, não a desqualifique, essa é a única forma de existir alguma chance de que a sua verdade também seja ouvida. O que precisamos é de um mundo com menos inimigos e mais adversários. Inimigos se abate, adversário se vence.

 

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