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Conversando com um Serial Killer: Ted Bundy

Assistir ao documentário sobre o Serial Killer Ted Bundy exige uma preparação emocional, porque não é nada fácil passar pelos três episódios de quase uma hora, mais um episódio final de mais de uma hora, e sair ileso. Enquanto monta um perfil do assassino em série, também mostra os assassinatos que ele cometeu e conforme sua verdadeira personalidade aflora, mais sombrio vai ficando e mais difícil de assistir. Mas não há uma tentativa de justificar o que ele fez. Bundy em nenhum momento é mostrado como algo diferente de um homem e tudo isso se deve ao excelente trabalho do diretor Joe Berlinger, que sabe muito bem como contar uma história difícil desde seu premiado documentário “Paradise Lost”.

Em 1980, já condenado pelos assassinatos que cometeu na Flórida, no ano de 1978, Ted Bundy decide que quer conversar com jornalistas numa tentativa de que seu caso fosse reexaminado e ele saísse do corredor da morte. Mas Bundy era manipulador e muitos sabiam disso, por isso ele escolheu o novato jornalista Stephen G. Michaud para conversar, achando que poderia fazê-lo acreditar em sua versão da história. Michaud pediu ajuda de seu superior, Hugh Aynesworth e juntos montaram um dossiê completo sobre o assassino, que viraria o livro homônimo ao documentário: “Conversando com um Serial Killer: Ted Bundy”. Stephen e Hugh passaram seis meses conversando e gravando o que Ted Bundy tinha a dizer sobre seu caso e sua vida, obtendo quase 80 fitas cassetes e mais de 100 horas de gravação. Ambos jornalistas se sentiram aliviados quando tudo acabou.

A década de 1970 foi marcada, de forma negativa, pelo surgimento de serial killers, mesmo que o termo ainda não existisse naquela época. Entre 1971 a 1978, Charles Manson, Son of Sam e outros famosos assassinos surgiram nos EUA, em sua maioria tendo como alvos mulheres jovens. Curiosamente na mesma época em que as mulheres começavam a ter mais liberdade para viverem suas vidas. Ted Bundy foi responsável, sozinho, pela morte de pelo menos 36 mulheres entre 1974 e 1978, todas entre 20 e 22 anos, com características físicas muito semelhantes a de sua ex-namorada, um fato que não é discutido no documentário mas que chamou muito minha atenção.

Logo no início, no primeiro episódio, Bundy começa falando sobre si, no início da gravação, e a frase que mais me chamou a atenção foi quando ele fala: “Não sou um animal e não sou louco. Não tenho dupla personalidade. Sou um cara normal”. Sim, essa é a grande questão, ele era um homem normal, mas que odiava ser normal. Ele queria se destacar, mas sempre foi medíocre, durante a infância, adolescência e, principalmente, quando tentou entrar para a faculdade de Direito e não conseguiu. Mas ele era charmoso, bonito, manipulador e sabia como usar isso a seu favor. Quando seu primeiro relacionamento sério não deu certo ele simplesmente não aceitou e por mais que ele comente, displicentemente em uma das fitas, está lá sua afirmação, que quando sua namorada o deixou ele sentiu que precisava se vingar.

Essa é uma história que já vimos várias e várias vezes acontecer, um homem branco, comum, que se acha melhor do que realmente é, acreditar que a mulher que está em um relacionamento com ele é sua propriedade. Muitos deles se acham no direito de matar a mulher que o larga, porque ele passa a não se sentir mais bom o suficiente, não é mais especial. Ted Bundy foi além, ele matou 36 mulheres porque simplesmente precisava se vingar por terem o feito se sentir inferior.

O que mais choca em todo o caso de Bundy é o quanto as pessoas não aceitavam que ele era o responsável por todos aqueles assassinatos horríveis porque ele era charmoso, porque ele era um homem branco, bem-educado, que aparentava ter uma certa inteligência, o bom rapaz. Infelizmente, até hoje há pessoas obcecadas por ele exatamente por todos esses motivos que citei.   Apesar de difícil de assistir por contar uma história horrível sobre um homem que matou 36 mulheres apenas porque se sentia inferior, esse é um documentário que vale a pena ser visto. Ele não tem um viés sensacionalista, ele não glamouriza Bundy, e também não o mostra como um monstro. O documentário mostra de forma bem crua que Ted Bundy era um homem normal, medíocre e que decidiu fazer o que fez exatamente porque sabia que não era nada especial.

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