Parceria Resenhas

Dentes de Dragão

 

Dinossauros e cowboys são paixões de infância. Nasci no estado americano de Utah, o que mais tem escavações com fósseis nos Estados Unidos, e os fósseis mais completos. Me lembro de uma visita quando pequeno a um desses parques, e o meu livro preferido era um de pop-ups da Hallmark com os principais dinossauros, que eu conhecia de cor e salteado. Utah também é no oeste; no sul do estado, na divisa com o Arizona, fica o Monument Valley, com as paisagens filmadas magistralmente por John Ford em westerns clássicos. Eu não perdia um episódio de Bonanza (e não era reprise…), e tinha os bonecos. E quando aparecia um filme como O Vale de Gwangi (1969), em que cowboys capturavam um dinossauro criado pelo mago dos efeitos especiais Ray Harryhausen, era perfeito. Não existia nem o videocassete ainda, então pra reviver a aventura tinha que ser com a adaptação em quadrinhos. Aí quando cai no colo da gente um livro como Dentes de Dragão, não tem como resistir.

 

Antes de mais nada, pros fãs do Michael Crichton de Jurassic Park, os dinossauros de Dentes de Dragão (tradução: Marcelo Mendes) estão bem mortos, e só aparecem na forma de fósseis mesmo. Eles são o objeto da disputa de dois paleontólogos da vida real, que em 1876 lançam expedições rivais para buscar ossos de dinossauros no oeste americano. É aquele Velho Oeste com índios em guerra com os brancos, e cidades povoadas por foras-da-lei. E é real: Crichton se baseou na rivalidade entre Othniel Marsh e E. D. Cope, que entre 1872 e 1892 travaram a chamada “Guerra dos Ossos”. Crichton insere nessa disputa um jovem estudante fictício, William Johnson, que é o herói da aventura. Claro, o escritor toma algumas liberdades com os fatos, mas tudo bem, já que estamos falando de personagens que a todo tempo buscavam enfeitar a própria história.

Marsh (esq.) e Cope

Esse é o terceiro romance publicado postumamente do autor americano falecido em 2008. Foi escrito em 1974, quando Crichton estava estourando, impulsionado por O Enigma de Andrômeda (livro, 1969; filme, 1971) e Westworld – Onde Ninguém tem Alma (filme, 1973). Embora seja uma leitura divertida e instigante, dá pra entender por quê ficou tanto tempo engavetado. Mas também o motivo de merecer uma segunda chance.

O livro se divide em duas partes: antes e depois da grande descoberta de uma ossada por uma das expedições. A primeira, até chegar lá, tem um ritmo lento. Os personagens passam longo tempo num trem – passam até pela minha Salt Lake City! E apesar de criar muita expectativa com a ameaça dos sioux em guerra, pouca coisa acontece. Em compensação, a segunda parte, em que as duas expedições lutam pra voltar pro leste com a descoberta, vai a galope.

Como é sua marca registrada, Crichton pesquisou exaustivamente todos os detalhes para dar o máximo de realismo a sua aventura. Ele estabelece as Guerras Indígenas como grande pano de fundo, explicando detalhadamente o vaivém dos acordos e desentendimentos entre índios e brancos. Esse detalhamento histórico é rico e interessantíssimo, mas às vezes entra no caminho da narrativa.

Na segunda é que o autor parece se divertir mais (e nós leitores também). Tem perseguição com índios, estouro de manada de búfalos, emboscadas noturnas, e a tradicional cidadezinha do Velho Oeste. No caso, a verídica Deadwood, sem xerife, lotada de pistoleiros, e com direito a saloon, carteado de vida ou morte, a até um duelo na rua principal. Desfilam pela trama personagens reais como o General Custer, Touro Sentado, General Sheridan, Calamity Jane, e especialmente Wyatt Earp.

Diversão garantida, com um pouco de história pelo caminho. Hora de cavalgar rumo ao pôr do sol.

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