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Em um bosque muito escuro

 

Para explicar o quanto gostei de Em Um Bosque Muito Escuro, basta contar que peguei ele para ler às seis da tarde e só larguei, quando acabou, às duas da manhã. 285 páginas de adrenalina, com uma escrita que flui muito bem, sem muita firula, como um bom livro de mistério deve ser.

O que me chamou atenção para ele foi o fato de Ruth Ware, sua autora, ter ganhado o status de umas das melhores escritoras de mistério de 2015 por publicações de peso como o New York Times e o Independent, além dos direitos do livro já pertencerem à Hollywood, que em breve o transformará em filme. Preciso confessar que estou adorando essa onda de escritoras de mistérios, começando lá na maravilhosa Gyllian Flynn, passando por Paula Hawkins e chegando em Ruth Ware. Todas autoras que sabem construir muito bem seus personagens e nos envolver em suas histórias, que mostram o universo feminino por um prisma mais sombrio. Autoras que usam suas palavras para montar alegorias sobre assuntos que precisam ser discutidos.

Em Um Bosque Muito Escuro  (Editora Rocco – selo: Luz Negra, 2016, 285 páginas) conta o que aconteceu com Nora quando ela foi para uma casa na floresta, em uma cidade perto de Londres, para uma festa de despedida de solteira. Nora, ou Leonora, é uma escritora de livros policiais, que vive e trabalha em seu pequeno apartamento em Londres. Fechada e quase reclusa, ela mantém contato apenas com Nina, uma amiga da época da escola que agora é médica. Exatamente por ter se distanciado de quase todo mundo do seu passado, ela fica surpresa quando recebe um convite para passar um fim de semana em Northumberland, na despedida de solteira de Clare, sua amiga de infância que ela não via há 10 anos. Ela e Nina vão para uma casa de vidro no meio da floresta, ou melhor, do nada, onde estão Clare, Flo, amiga de Clare que organizou tudo, Tom e Melanie, os outros convidados. Aquela não é uma despedida de solteira normal, Clare e Nora têm muitos segredos entre elas e tudo acaba dando muito errado.

A história é toda contada em primeira pessoa por Nora, que tenta lembrar exatamente o que aconteceu naquele fim de semana. Da cama de um hospital, ela tenta preencher lacunas de como que uma despedida de solteira pode ter acabado tão mal. Mas ela quase não lembra de nada, nem exatamente o que aconteceu. A trama vai e volta, sonhos se misturam à realidade e deixam buracos na história, que vão se preenchendo conforme Nora lembra de detalhes, conversas e situações. A escrita de Ware é fácil, flui bem, sem muito floreio. Pontilhada pelo senso de humor britânico, ela cria um mistério bem nos moldes das tramas clássicas britânicas, misturando muito bem com um estilo mais atual, com citações a cultura pop contemporânea.

Como boa parte dos thrillers atuais, ao mesmo tempo que cria seu mistério, Ware discute questões. Nesse caso, o quanto uma amizade tóxica pode deixar sequelas por muito tempo. Mesmo com 26 anos, Nora ainda se sente uma adolescente que precisa da aprovação de outras pessoas para poder seguir em frente. Enquanto desenrola sua trama, a relação entre Nora e Clare é relembrada pela protagonista de forma que podemos entender ambas personagens melhor. As partes ocultas da história delas duas e o desenrolar do papel de cada um dos outros personagens, formam um belo quebra-cabeça que intensifica o mistério do livro. Traduzido por Alyda Sauer, o texto ágil de Ruth Ware nos transporta com facilidade para dentro de seu mundo. A história de Nora vira uma montanha-russa impossível de sair.

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