Entrevista

Entrevista exclusiva com Gail Carriger

Gail Carriger
Gail Carriger

Cheiro de Livro entrevista Gail Carriger, autora de “Alma?”

Seu rosto está sempre parcialmente escondido seja atrás de uma xícara de chá – bebida que ela ama! -, seja atrás de uma sombrinha (quem leu “Alma?” sabe que pode ser usada como arma). Mas na hora de responder perguntas, Gail Carriger esbanja eloquência, excelente humor e doses saudáveis de sarcasmo, combinação perfeita da alma por trás de Alexia Tarabotti, uma protagonista sem alma.

Arqueóloga de formação e escritora por vocação, Gail Carriger tocou o coração de leitores em vários lugares do mundo com “Alma?” , uma fantasia urbana com o charme do Steampunk que narra a vida de Alexia Tarabotti, uma mulher de 26 anos que vive na Inglaterra de 1873 em meio a vampiros, lobisomens, fantasmas, familiares afetados, amigas cafonas e autômatos. Ah, sim, e Alexia não tem alma.

“Seu nome é em homenagem a Arcangela Tarabotti, uma mulher que escreveu uma monografia contradizendo a Igreja, que dizia que mulheres não tinham alma”, explica Gail em entrevista ao Cheiro de Livro.

Os nomes significam muito para Gail, sendo cada um, e sua respectiva pronúncia, importante para a trama, podendo até revelar os destinos dos personagens em sua saga “O Protetorado da Sombrinha”, que tem como primeiro volume “Alma?”, publicado no Brasil pela Editora Valentina. No total, são cinco livros já publicados nos EUA.

A história de “Alma?” é original e charmosa, oscilando entre momentos sombrios, de ação, ótimo humor e cenas bem safadas. “Morro de vergonha quando escrevo as cenas mais quentes. Não me sinto confortável escrevendo essa parte”, confessa Gail. Os protagonistas destas cenas são Alexia e o lobisomem Lorde Maccon, com quem a protagonista mantém um relacionamento quase profissional antes do instinto de Maccon tomar conta e arrebatar o coração da moça e dos leitores. (Confira a resenha de “Alma?”).

Apaixonada pelo gênero Steampunk – tanto que tem diversos figurinos do gênero -, Gail Carriger conversou com o Cheiro de Livro sobre “Alma?”, fandoms e muito mais. Mas atenção: existem spoilers quanto ao final de “Alma?” e o que acontecerá nos próximos livros. Leia por sua própria conta e risco.

Cheiro de Livro: Alexia é uma protagonista “fora do padrão”, sendo diferente fisicamente do que era considerado atraente em sua época (tem pele mais morena e mais curvas) e tendo atitudes mais fortes do que era esperado de uma dama, estando assim a frente de seu tempo. Você considera Alexia uma modelo para as mulheres de hoje?

Gail Carriger: Todos os meus personagens são criaturas de sua época. Seus sentimentos e reações são moldadas, em certa medida, por uma mentalidade peculiar vitoriana. Sim, existe certamente um aspecto de sensibilidade mais moderna, mas é subserviente à voz de cada personagem. Acredito que meus personagens sejam modelos para mulheres que já existiram ou nunca existiram, mas não para as mulheres do dia de hoje.

Cheiro de Livro: Em entrevistas anteriores, você informou que, quando em dúvida sobre parafernália de steampunk, recorre aos seus amigos que jogam RPG. Você também joga? Acha que RPG pode ajudar a criar mundos e personagens literários?

Gail Carriger: Nunca fui uma gamer, mas adoro ver outros jogarem. Já participei de encenações históricas. Com RPG, mesmo se fosse Dungeon Master, acho que existem regras demais para criar um mundo para os outros e eu quero ter minhas próprias regras. Complexo de Deusa, eu acho. Eu não faço as fichas para personagens quando escrevo, mas as vezes eu uso a técnica para ir mais a fundo ao criar um personagem. Por exemplo, “entrego” para meus personagens um daqueles testes de relacionamento que vêm em revistas para ver como responderiam. Essa é uma boa maneira de me lembrar que todos os personagens, não importa o quão pequeno, têm suas intenções, pensamentos e sonhos.

Cheiro de Livro: Você disse se considerar uma autora voltada para seus personagens. Isso está muito aparente no relacionamento entre Alexia e Maccon. Embora isso não necessariamente ocorre em “Alma?”, é comum ter dois personagens disputando o coração da protagonista (principalmente em YA, mas também ocorrem em fantasia urbana). Mas, mesmo com o que ocorre no final do livro, já soube que o casal terá problemas no futuro. Poderia contar um pouco sobre o que vem por aí? Você estava preocupada com a reação dos leitores quando escreveu os outros livros?

Gail Carriger: “Alma?” é baseado na narrativa clássica gótica, então ele termina com um casamento. Mas eu queria mostrar o que acontece com um casal depois do casamento e ter isso com os personagens principais é um bom desafio. Existem problemas e Alexia tem sim uma outra oferta romântica, mas eu também quis mostrá-los felizes juntos e tendo ainda romance, aventura e vidas excitantes depois de casados. Quando você chegar no final de “Changeless” (o segundo livro da saga), você vai entender a razão de eu ter me preocupado com a reação dos fãs. Mas isso é tudo que posso contar sem dar spoilers.

Cheiro de Livro: Por falar em fãs, eles são apaixonados e leais não? O que você acha do fenômeno que é ser fã, de pertercer a um fandom?

Gail Carriger: Meus fãs são fantásticos e extremamente similares, independentemente de seus países de origem. Eles são meu porto seguro durante qualquer evento de que eu participe, mesmo com barreira de idioma. Sei que estarão lá. Uma vez me disseram “Eu amo os fãs da Gail. As mulheres são exuberantes e cheias de vida e os homens são cavalheiros gentis”. E vi, para minha felicidade, que isso é verdade. Como eu cresci cercada por fandoms – sou muito fã de Jornada nas Estrelas e Battlestar Galatica, Babylon Five e Firefly – sou, consequentemente, uma daquelas autoras prontas para enfrentar convenções, mesmo achando que ninguém está realmente preparado para a força que é um fandom devoto. Mas eu vejo isso como uma bênção. E também ajuda eu mesma ser uma fã devota.

Cheiro de Livro: “Alma?” lida com o tema tolerância em vários níveis diferentes – desde ser a pessoa diferente na família até ser sobrenatural. Enquanto escrevia, você, conscientemente decidiu abordar o tema ou ele foi consequência da trama? Existem mensagens específicas que você quis passar para seus leitores?

Gail Carriger: Acho que todo autor coloca um pouco de si em seus personagens, mas também no que eles enfrentam. A pergunta é: o que colocar? Acho que você pode dizer que eu não fiz isso conscientemente, mas são meus livros, e pedaços meus vão acabar na página, sejam eles por decisão consciente ou não. Existem aspectos – como mulheres com personalidade forte, os benefícios de ser prático, tolerância quanto a estilos de vida alternativos e conquistar desafios com a ajuda de outros – que vão aparecer cada vez mais a medida que a saga progride e sei que estarão presentes em tudo que eu escrever. Eu não estou conscientemente tentando transmitir uma mensagem, porque sairia como um sermão. Mas esses são assuntos importantes para mim e vão aparecer de qualquer maneira.

Cheiro de Livro: Você já mencionou que “tudo agora é YA” e vejo que isso é verdade. A produção de livros YA (young adult – jovem adulto) cresceu e a notoriedade aumentou, assim como a demanda por novos títulos. O mesmo ocorreu com erótico. “Alma?” tem um elemento jovem, mesmo não sendo YA, e um pouco de cenas mais quentes, mesmo não tendo erotismo como foco. Tendo dito isso, em sua opinião, qual a razão que atrai os leitores para esses gêneros.

Gail Carriger: Não me sinto a vontade de dizer porque outros se sentem atraídos por YA, mas posso te contar porque eu me sinto. Eu adoro YA! Desde que li “Alanna: The First Adventure” , de Tamora Pierce, me viciei. Ainda é meu gênero preferido de leitura e sempre quis poder ter a oportunidade de escrevê-lo. Tem algo tão leve e gostoso sobre os livros YA. Os acho confortavelmente imersivos. Consigo terminar de ler um em uma tarde!

Cheiro de Livro: O Brasil é bem diferente da Inglaterra de Alexia. Como, então, conquistar leitores em terras tão tropicais?

Gail Carriger: Bem, espero que a diferença faça parte do charme e que meus leitores brasileiros encontrem-se transportados para longe e que se divirtam muito nessa viagem. Mas mais do que qualquer coisa, espero que meus livros os deixem sorrindo.

Gente, tem como não amar?

Dica bacana 1: no site da Gail tem uma seção com muita informação sobre seu processo criativo, personagens, gênero Steampunk e até tipos de chá que mais gosta! Vale conferir.

Dica bacana 2: A edição de agosto do Clube do Livro Saraiva vai abordar o gênero Steampunk e “Alma?”. Se você for do Rio de Janeiro, aproveita!

Dica bacana 3: Leia “Alma?” agora! Se a entrevista e tudo isso não te convenceu, confira a resenha aqui.

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