Coluna Livros

Esse é o meu povo

Mochilas pesadas, malas, câmeras, sorrisos e olhos brilhando: por todos os pavilhões da Bienal Internacional do Livro no Rio de Janeiro, foi isso que eu vi. Críticos podem dizer que jovem não lê, que youtubber é que faz sucesso, que ninguém compra livro. Críticos vão criticar, mas quem é fã, quem é leitor já está acostumado a isso. Somos guerreiros da página virada, do “só mais um capítulo”, do “pelo amor de tudo que é sagrado, pega uma senha pra mim!”.

Essa Bienal foi de muito trabalho para mim. Além de mediar 10 painéis com quinze autores nacionais e internacionais na programação oficial do evento, ainda fiz um evento com a equipe do Cheiro de Livro (obrigada The Gift Box pelo patrocínio e parceria!), participei de um bate papo com o PublishNews sobre clubes de leitura, fui entrevistada pelo Skoob no estande do Submarino e ainda mediei dois eventos da HarperCollins Brasil, um sobre o livro “A Dobra no Tempo” (sensacional!) e um para blogueiros com a autora Karin Slaughter (maravilhosa toda vida!). Ufa! Mas e os autógrafos que eu queria pegar? E os livros que eu queria comprar? E a minha Bienal como fã?

O bom de ficar até tarde na Bienal é conseguir ver os estandes e comprar livros com calma. E foi nesse momento que parei para olhar ao redor e entender a magnitude de tudo aquilo. Sim, a Bienal movimenta muito dinheiro em marketing e em vendas, mas para mim é uma conquista pessoal. Até meus 15 anos, eu não curtia ler. Ir para Bienal para ver autores, só passei a ir depois dos 20. Mas desde então, minha vida mudou e a razão foi uma só: o livro.

De uma fã leitora de Harry Potter, passei a fã criadora de conteúdo e organizadora de evento. De organizadora de evento, passei a curadoria do Clube do Livro Saraiva, que já tem mais de 8 anos. De curadora de eventos literários, passei a mediá-los e continuo a fazer isso. De mediadora sou também autora e continuo a escrever. E a constante disso tudo é que sou leitora e sempre serei.

No meio do pavilhão azul, ao observar o fluxo de pessoas diminuir conforme a noite chegava, foi me dando uma coisa no peito, uma coisa que só consigo chamar de orgulho. Orgulho da minha jornada – que embora muito louca, difícil e com muitos lindos frutos, está só começando -, mas também do meu povo, o povo que lê. Esse povo está passando não só por uma crise econômica, política e de segurança, mas também pela pior delas: a crise moral.

E mesmo com tudo isso, esse povo acredita, se perde e se encontra nas páginas de um livro, em Nárnia, Hogwarts ou ali no RioCentro. Esse é o meu povo, que não desiste nunca, que enfrenta horas por uma senha, que abraça e chora ao encontrar um autor que traduziu nossos medos e sonhos em palavras, que me fez sentir especial ao me dar receber um abraço e sussurrar um “você me representa”.

Esse é o meu povo e eu sou deles. Eu sou eles.

Então críticos vão criticar, mas a gente continua a nadar contra a maré feliz e sabendo que não estamos sós. Temos uns aos outros, vários capítulos e uma lista de leitura interminável. E isso é bom porque assim como a lista, interminável é nossa imaginação e amor pelas palavras.

Obrigada a todos que foram até o RioCentro em busca de uma foto, um autógrafo, um passeio diferente. Se você tem um livro na sua mão, outra aventura te espera e nós, povo que lê, teremos orgulho de te receber de braços abertos.

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