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Frederik Pohl – 100 anos

Aniversários são sempre boas oportunidades para fazer retrospectivas, e queria aproveitar para lembrar de um dos meus escritores preferidos de Ficção Científica, infelizmente pouquíssmo conhecido aqui no Brasil. Frederik Pohl (1919-2013) foi um gigante do gênero não só pelo que escreveu, mas pela liderança que teve também nos bastidores.

Os Futurians em 1938: Wolheim, Pohl (centro) e John Michel

Pohl largou a escola aos 17 anos. Em 1938, ajudou a fundar o grupo de fãs The Futurians, que reuniu futuros autores e editores como Isaac Asimov, Donald Wolheim, Judith Merril, James Blish e Damon Knight. O grupo, politicamente de esquerda, foi famosamente barrado na primeira Convenção Mundial de FC em Nova York em 1939. 

Ele passou a atuar como agente literário dos amigos, inclusive de Asimov, uma parceria que duraria anos. Foi editor de duas revistas, Galaxy e If, pela qual ganhou três prêmios Hugo. À frente dessas revistas, procurou valorizar uma Ficção Científica tematicamente mais complexa. Ele, que havia começado na Era de Ouro dos anos 1930, foi fundamental para convencer a editora Bantam a publicar obras inovadoras como The Female Man (1975), o clássico feminista de Joanna Russ, e a obra-prima experimental Dhalgren (1975), de Samuel R. Delany.

Como escritor, teve parcerias marcantes com Cyril Kornbluth e Jack Williamson, e ainda terminou de escrever um livro que Arthur C. Clarke deixou inacabado, The Last Theorem. Seu forte era a ironia, e nessa linha escreveu com Kornbluth The Space Merchants (1953), uma sátira mordaz. Num futuro dominado pelas corporações e agências de publicidade, o mundo está degradado ambientalmente. O protagonista é um publicitário encarregado de convencer os ambientalistas (tratados como eco-terroristas) de como será maravilhoso ir colonizar Vênus (que na verdade é totalmente inóspito), e acaba virando ele próprio alvo da perseguição corporativa. Uma visão crítica que continua atual.

Outro dos meus favoritos dele é Man Plus (1976), em que um astronauta se submete e modificações biológicas e cibernéticas para se adaptar a Marte, e aos poucos vai perdendo a humanidade. 

Mas o mais conhecido dele é Gateway (1977), que ganhou todos os prêmios do gênero. A história gira em torno da descoberta de uma espécie de portal deixado para trás por uma civilização avançadíssima, com naves pré-programadas para viajarem a destinos variados em todos os cantos da galáxia. É uma obra-prima recheada de mistérios e especulações não muito otimistas sobre a vida inteligente no Universo, e de quebra tem um protagonista com problemas mentais. Teve várias sequências, e de tempos em tempos surgem promessas de possíveis filmes ou séries, mas até hoje nada se concretizou.

Pohl acima de tudo era um contador de histórias bem-humorado. Sua autobiografia The Way The Future Was é um relato precioso dos bastidores da Ficção Científica ao longo de várias décadas. Ele seguiu o livro com um blog, The Way The Future Blogs (infelizmente não mais online), pelo qual ganhou em 2010 mais um Hugo, desta vez como Fan Writer, ao lado dos que já tinha como escritor e editor. E até o fim da vida, aos 93 anos, contou histórias divertidas que viveu com outros escritores ao lado dos quais ajudou a moldar a Ficção Científica do século XX.


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