Livros Resenhas

Getúlio (1930-1945)

Comecei essa jornada de ler os três volumes da biografia de Getúlio Vargas porque, desde que me entendo por gente, tenho pinimba com esse ex-presidente. Não é apenas pinimba, não consigo entender como um ditador que prendeu e torturou milhares de brasileiros durante os seus anos no poder pode ser idolatrado até hoje como uma grande personalidade. Esse segundo volume da trilogia é o que mais me interessava, é o que retrata os anos do Estado Novo, ou seja, o período ditatorial de Vargas.

O primeiro volume da biografia termina com a vitória da Revolução de 1930, Getúlio está no poder e começa a montar seu governo. Os 15 anos retratados no segundo livro ressaltam a enorme capacidade política de Getúlio, mostram um líder carismático, capaz de tirar do caminho futuros adversários antes mesmo deles começarem a se mostra perigosos, um político capaz de deixar pelo caminho amigos próximos e cooptar inimigos. O maior mérito de Vargas é mesmo sua capacidade de articulação política e de administrar crises. Foram anos de muitas crises e de dois golpes de estado, um ele articulou e o outro o tirou do poder.

Os piores anos, e os que só fizeram aumentar a minha pinimba com Getúlio, são os primeiros e os que se seguem a intentona comunista de 1935. É quando Filinto Muller exerce todo o seu poder, prende milhares de brasileiros, entre eles Graciliano Ramos que vai contar suas agruras na prisão no clássico “Memórias do Cárcere”. Além do uso da força contra os adversários, sejam eles de esquerda, os comunistas, ou de direita, os integralistas, Getúlio decreta da censura rigorosa dos meios de comunicação e usa a propaganda como um dos principais pilares do seu governo. São eventos como as apresentações de coros regidos por Villa Lobos no estádio de São Januário e demais solenidades com tons ufanistas que foram moldando a imagem do presidente da república e do Estado Novo. O DIP, Departamento de Imprensa e Propaganda, faz um trabalho primoroso durante esses anos de Getúlio no poder, uma formula que vem se repetindo desde então na nossa política, com graus diferentes de êxito.

São durante esses 15 anos também que Getúlio consolida da sua imagem de pai dos pobres, de um líder que luta pelos trabalhadores. É no Estado Novo que as CLTs são instituídas, que os sindicatos ganham poder. É inegável que essas são conquistas importantes, mas quando se fala delas se esquece que o governo da época reprimiu qualquer tentativa de sindicatos independentes, que prendeu anarquistas e comunistas que tentavam estabelecer sindicatos que não fossem subordinados ao Estado. Se esquece também que todas essas conquistas foram feitas visando apoio para a sustentação de um projeto de poder e sem a participação dos trabalhadores no debate. São conquistas que devem ser lembradas, claro, mas não podem ofuscar o todo que levou a elas, um todo bem tenebroso.

Os anos do Estado Novos coincidem com os da Segunda Guerra Mundial e ela é fundamental para entender a queda de Getúlio. Existiam  duas vertentes dentro do governo, os germanófilos, representados por Dutra e Góes Monteiro, e os americanofilós, representados por Oswaldo Aranha. Em um primeiro momento o Brasil se manteve neutro, tinha uma boa relação com os EUA e com os países do Eixo. Getúlio utiliza a posição estratégica do Brasil na América Latina para conseguir vantagens, é assim que a CSN, Companhia Siderúrgica Nacional, saí do papel, por exemplo. Durante um bom tempo Getúlio deu sinais contraditórios, hora falava sobre a importância das democracias, hora discursava sobre as maravilhas do totalitarismo. Quando viu que os EUA iriam aceitar as suas condições se juntou aos aliados, mandou pracinhas para a Europa, entre outras coisas, porque os Aliados com tropas no front receberiam ajuda primeiro.

Getúlio Vargas sofre um golpe de estado porque não consegue articular a tempo uma abertura, suas manobras falham e, um acidente de carro que o tira de circulação por meses, mostra um governo rachado. Ele sai sem ser enxotado ou preso e deixa no seu lugar Eurico Gaspar Dutra, homem de sua confiança que trabalhou ao seu lado no Estado Novo. Agora começo a me dedicar ao ultimo volume desta ótima biografia escrita por Lira Neto.

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