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It – Capítulo 2

“Amigos. Eles não são bons ou maus amigos. Talvez sejam apenas amigos. Pessoas que o apoiam quando você se machuca e que o ajudam a não se sentir sozinho. Talvez valha a pena ter medo, esperar e viver por eles. Talvez valha a pena morrer também. Se é isso que tem que ser. Sem maus amigos. Somente pessoas que você deseja. Precisa estar com. Pessoas que constroem suas casas em seu coração.” Essa é uma citação de Stephen King que mostra o quanto ele entende a importância de amigos em nossas vidas. Ele pode ser famoso por criar monstros inesquecíveis e situações assustadoras, mas não há a menor dúvida que ele também sabe falar sobre amizades que ficam com a gente para sempre.

Dos quatro amigos de “O Corpo” até Holly Gibney e Bill Hodges de “Mr Mercedes”, passando por Jack Sawyer e o Lobo de “O Talismã”, não há dúvida que o grupo de amigos mais icônico já criado por King é o Clube dos Otários. Sete pré-adolescentes que são considerados “perdedores” por grande parte das outras crianças da cidade de Derry, no Maine, e que se unem por puro instinto de sobrevivência, mas que acaba virando uma das histórias mais bonitas já criada sobre amizade. Uma amizade tão poderosa que, apesar de no livro ser contada em flashbacks dos personagens já adultos, acabou virando um filme que compôs a primeira parte da nova adaptação do livro para o cinema.

No primeiro filme voltamos para 1989, quando Billy, Bev, Ben, Eddie, Richie, Stan e Mike se aproximam por causa do medo, dos valentões do colégio, de pais abusivos, de uma vida muito protegida, de não poder ser quem é e do racismo. Se o fator que os faz enfrentar esses medos, na forma do palhaço Pennywise, é a morte do irmão mais novo de Billy, a verdadeira razão é que eles percebem que juntos são fortes.

Vinte e sete anos depois, cada um seguiu com suas vidas, mas Pennywise volta a assombrar Derry e esse é o ponto de partida da segunda parte, It – Capítulo 2 (It: Chapter 2, EUA, 2019), que chega ao cinema essa semana.  Mike (Isaiah Mustafa), foi o único que ficou em Derry e que lembra exatamente de tudo o que aconteceu. Quando Pennywise volta, ele liga para os amigos de infância, para relembrá-los do pacto que fizeram de tentarem derrotar o monstro de novo. Ao mesmo tempo que seguiram com suas vidas fora de Derry, eles também se fecharam em seus traumas, esquecendo de tudo que enfrentaram no passado. A ligação de Mike faz que cada um deles lembrem o quanto foi difícil enfrentar tudo o que enfrentaram no passado e o quanto eles se sentem marcados e amedrontados. Billy (James McAvoy) virou um autor de livros de terror de sucesso. Ben (Jay Ryan) é um famoso engenheiro. Eddie (James Ransone) trabalha para uma companhia de seguros como avaliador de riscos. Bev (Jessica Chastain) virou uma renomada estilista. Richie (Bill Hader) agora é comediante. E Stan (Andy Bean) que é um contador bem-sucedido.

Apesar de todos parecerem terem se saído muito bem profissionalmente, todos enfrentam conflitos internos relacionados com a infância, que foi traumática não apenas por causa de Pennywise, mas também por causa de problemas pessoais. Dos amigos, Bev é a que menos parece ter conseguido se desvincular do passado, porque do pai abusivo ela passa a ter um marido abusivo e extremamente controlador. No momento em que pisam em Derry e se reencontram, o filme foca no embate com o Pennywise mais do que nos conflitos de cada personagem. O problema é que nesse ponto, em procurar dar ênfase ao palhaço, o filme acaba sendo redundante, ao mostrar cada um dos amigos se “reencontrando” com o monstro, ao mesmo tempo que utiliza flashbacks.

Um ponto que sempre comento sobre a obra de Stephen King, é como ele usa o terror sobrenatural para falar sobre o terror real e o quanto o ser humano pode ser cruel. It é sobre o medo, em todos os sentidos, desde o de se expor pra alguém que se ama, até enfrentar os valentões. Mais uma vez, uma adaptação escolhe focar no sobrenatural e diluir as questões humanas. Há uma preocupação de Andy Muschietti em mostrar um pouco em como Derry é afetada pelo mal, no início do filme quando umas das cenas mais fortes do livro, sobre crime de ódio relacionado a homofobia, acontece. Mas, ao mesmo tempo, entendo que além de ter que agradar todo o público de filme de terror e não apenas os fãs do King, Muschietti precisa contar a história a partir do monstro, que tem maior apelo para esse público.

Apesar de deixar de lado os conflitos dos personagens já adultos, Muschietti consegue usar como tema central de seu filme o fator mais importante da história: a amizade entre os sete personagens. Se ela surge no primeiro filme, ver eles se reencontrarem, relembrarem a importância de cada um em suas vidas e se unirem mais uma vez, de uma forma mais forte, é com certeza o que nos conquista nesse filme.

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