King é Rei

It – Uma Obra-Prima do Medo

Memória afetiva tem uma força bem grande dentro do nosso imaginário. Por exemplo, eu lembrava bem mais das chamadas na televisão sobre o filme It (na época: “A Coisa”) do que exatamente do filme. Claro que lembro do palhaço Pennywise, sua imagem é poderosa e Tim Curry ajudou a consolidar essa imagem. Por muito tempo – e até hoje – não consido me sentir a vontade com imagens de palhaços, em boa parte graças ao Tim Curry e seu Pennywise, como também por causa de Poltergeist e Palhaços Assassinos do Espaço Sideral. Mas esse não é um texto sobre filmes de terror com palhaços, mas sobre a primeira versão feita de “It”.

Em uma semana, “It: Chapter 2” chega aos cinemas, fechando a saga do Clube dos Otários contra Pennywise. Essa nova adaptação da obra de Stephen King deixou alguns fãs divididos porque a maioria lembrava muito bem da ótima atuação de Tim Curry e achava que nenhum outro ator chegaria aos seus pés. É nesse ponto que volto a lembrar da memória afetiva, Tim Curry fez um trabalho tão bom, que seu Pennywise marcou toda uma geração. O problema é que essa boa atuação apagou de boa parte dos fãs o quanto o filme, ou melhor, a minissérie, não é boa.

Esse é um problema que aconteceu com frequência nos anos 1980 e 1990 em relação a boa parte da obra de King. It – Uma Obra-Prima do Medo (Stephen King’s It, EUA, 1990) não é um filme horrível. Não mesmo. Mas, mesmo sendo uma minissérie, com três episódios de 1 hora, não consegue transmitir exatamente o que o livro queria contar.  Eu sei que é complicado isso, que temos uma ideia bem clara na cabeça quando lemos um livro. Pode ser frustrante ver o filme e perceber que quem fez a adaptação não enxergou a história da mesma forma. Mas no caso de It, que é um livro enorme e com personagens muito bem desenvolvidos, fica difícil transmitir tudo para a tela. Principalmente porque não é apenas a história de um grupo de amigos enfrentando um palhaço sobrenatural. É sobre o medo e todo o mal que assombra uma cidade no interior do Maine, sendo que boa parte dele é causado por seres humanos.

O livro foi lançado em 1986 e a minissérie, dirigida por Tommy Lee Wallace, é de 1990. Assim, o roteiro de Laurence D. Cohen não precisou mudar muita coisa do livro. A história começa com um assassinato de uma menininha na década de 1980, em Derry, o que leva Mike Hanlon a voltar a ter contado com seus amigos de infância. Conforme Mike entra em contato com seus antigos amigos, cada um deles vai lembrando de quando enfrentaram Pennywise pela primeira vez, em um verão da década de 1960. Ao mesmo tempo que tiveram que lidar com problemas pessoais, bullying e o grupo de valentões da cidade, que vivia perturbando os “sete sortudos”. Dessa forma, a primeira parte da minissérie é formada por flashbacks e um pouco sobre como é a vida de cada um deles, 27 anos depois. Apesar de ter uma a excelente com o Pennywise saindo do ralo para assustar o pequeno Eddie, o fato do filme mostrar os meninos com 12 anos apenas em flashbacks, não detalha muito como era vida deles e a forma como se tornam melhores amigos fica meio superficial.

O foco acaba sendo no grupo já adulto, voltando a Derry para enfrentar Pennywise mais uma vez, assim como seus antigos traumas. É curioso que mesmo que tenha um total de 3 horas de duração, essa versão parece ser corrida. Não que precise abordar cada aspecto de cada personagem do livro, mas tanto as partes que acontecem na década de 1960, quanto a parte “atual”, são superficiais. Mesmo que mostre como foi horrível para cada um deles enfrentar o monstro no passado, a sensação de que partes estão faltando paira durante todo o filme. Graças a Tim Curry e a nossa memória afetiva, essa primeira versão de It ganhou o status de “clássico”. Mas não há a menor dúvida que os dois novos filmes, que dividem e trabalham a história do livro de uma forma muito melhor, são sem dúvida muito bem vindos.

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