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Jogos Vorazes – A Esperança – Parte 2

katniss 2

Para começar vamos estabelecer que eu tenho muitos problemas com adaptações para o cinema que dividem os livros em dois filmes para ganhar mais dinheiro. Isso sempre me incomoda e, na maioria das vezes, transformam um ótimo livro em dois filmes mais ou menos, quando não em filmes bem ruins (sim, estou falando de “O Hobbit“). Com isso estabelecido tenho que dizer que a divisão do terceiro livro da trilogia “Jogos Vorazes” tem seus acertos e seus erros e que no final das contas os dois filmes formam um todo que é ao mesmo tempo uma boa adaptação, com tudo o que essa palavra quer dizer, e uma alegria para os fãs dos livros.

A última parte da quadrilogia de filmes começa exatamente onde o terceiro filme terminou. O gancho da tentativa de assassinato de Katniss se desenrola com todos os efeitos psicológicos que  a cena tem em todos os envolvidos direta e indiretamente. Desse momento em diante o filme é uma grande aventura pontuado por uma serie de cenas de ação, perigo e guerra, exatamente como no livro. É como se tivessem dividido os filmes em “a expectativa” (leia nossa resenha do primeiro filme) e “a ação”. A Katniss vivida por Jennifer Lawrence, muito bem durante toda a série, ganha um pouco de experiência politica aqui, deixa de ser o simbolo involuntário que não sabe muito bem lidar com a sua importância, para ser alguém com um minimo de traquejo politico, capaz de também jogar um pouco. Quando JLaw foi anunciada como Katniss fui uma das pessoas que não gostou muito, ela me fez mudar de ideia ao londo dos quatro filmes, aqui seu bom trabalho encontra companhia em Josh Hutcherson e seu Peeta atormentado, em termos de atuação ele é a estrela desse filme.

Se os três primeiros filmes eram sobre sobrevivência e a criação de um simbolo da resistência esse é o filme da politica, seja a politica do poder ou a da guerra. Li o terceiro livro da série lá em 2011 e o debate politico da trama já me encantavam, assistir o filme em 2015 menos de uma semana depois dos ataques em Paris deixam tudo ainda mais interessante. O poder da propaganda, algo que o Estado Islâmico entende tão bem,  está na tela com o esquadrão formado só com “estrelas” para fornecer imagens e influenciar a guerra; a ideia que em uma guerra tudo é permitido, que a morte de civis é apenas mais uma consequência do conflito, tudo está lá. Os embates entre o radicalismo de Gale (Liam Hemsworth) e a ponderação de Katniss funcionam e são importantes. É verdade que ao transportar o final desse embate das paginas para a tela deram uma aliviada na barra do Gale.

As cenas do esquadrão de Katniss tentando chegar até o Presidente Snow, o sempre ótimo Donald Sutherland, são muito boas, principalmente a perseguição no subterrâneo, as cenas não são iguais aos do livro mas captam a ideia das cenas e as adaptam para uma experiencia mais visual que funciona. Essas cenas culminam na morte de alguns personagens muito queridos (não darei spoilers, pode deixar) e, em pelo menos uma das mortes, o impacto é menor nas telas do que no livro e isso é um problema que me incomodou. Uma dessas mortes é fundamental para certas ações de Katniss e sem o impacto que merece e tem no livro fica um pouco perdido no todo.

Um dos desfechos do livro que me surpreendeu está no muito bem feito no filme mas sem o elemento surpresa. Ele se desenvolve de uma forma que é tão óbvio o que vai acontecer que todo o impacto da decisão é ofuscado. É como se no livro fossemos tratados como seres pensantes e na tela como pessoas que precisam que tudo seja explicado e re-explique os motivos, e isso me irrita como espectadora, me irrita ainda mais porque no momento em que deve-se explicar melhor isso não acontece. O final de Katniss é fiel ao do livro mas merecia uma explicação melhor, quem vê apenas o filme fica com a impressão que tudo é muito melhor do que realmente é e a força do que Suzanne Collins colocou nas páginas perde bastante.

No todo essa é uma boa adaptação de uma saga para o cinema, tem um bom desfecho e deixa os fãs da serie felizes e isso é importante e nada fácil de ser feito. No todo é uma adaptação nota oito.

PS. Ver o Philip Seymour Hoffman na tela me deu uma grande dor no coração.

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