Entrevista

John Green, o eterno adolescente

A coletiva com o autor e o ator Nat Wolff foi pontuada pelo bom humor de ambos e muito carinho da plateia.

 

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A grande maioria conhece o escritor John Green por causa de seu romance “A Culpa é das Estrelas”, que ganhou uma adaptação para o cinema. Mas, muito antes de Hazel e Gus ganharem vida, o autor já era querido por milhares de leitores no mundo inteiro, por conseguir falar diretamente com adolescentes e mostrar que, mais do que entendê-los, ele os respeita, escrevendo histórias sensíveis e bem realistas sobre esse universo.

Agora é a vez de “Cidades de Papel” ganhar as telas, e dessa vez John Green em pessoa veio ao Brasil conversar com a imprensa e os fãs sobre essa nova adaptação. Ao seu lado estava o ator Nat Wolff, que protagoniza o filme no papel de Quentin Jacobsen.

O primeiro assunto que surgiu foi relacionado às mudanças do filme em relação ao livro, algo bem comum em adaptações, como deixou claro Green ao responder sobre o assunto. Ele afirmou que se sentiu tranquilo porque se tratava da mesma equipe de roteiristas que trabalhou em “A Culpa é das Estrelas”.  Para o escritor, o mais importante está no filme, a essência de seus personagens e a principal ideia do livro: falar sobre amizade, amor, idealização e futuro.

A dinâmica entre Quentin (Wolff) e Margo (Cara Delevigne) é a mesma, assim como entre Quentin e seus melhores amigos, Radar (Justice Smith) e Ben (Austin Abrams). Já para Nat Wollf, que era fã do livro, poder dar vida a Quentin foi como ganhar na loteria. Não apenas pelo papel, como também pelo fato de se aproximar de John Green e tornar-se seu amigo, o que ficou bem nítido durante toda a coletiva. Várias piadinhas entre os dois, muitos elogios e uma nítida cumplicidade de quem está junto na estrada há um tempo já (eles estão viajando pelo mundo promovendo o filme).

Apesar da nítida timidez de Nat no início da coletiva, ele logo se soltou e deixou claro por que conseguiu o papel de Quentin. Sua simpatia é natural, e o carinho dos presentes, assim como a facilidade de Green em falar em público, ajudou muito o jovem ator.  Quando uma repórter lembrou a Green que ele está próximo de completar 40 anos (o escritor tem 37 anos), para justificar sua curiosidade em relação à intimidade do autor com o universo adolescente, Nat logo fez uma piada, quebrando um pouco o clima de desconforto que o comentário causou em Green.

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Mas a grande estrela ali era John Green, que agradeceu o carinho dos fãs brasileiros, afirmando que alguns de seus livros não fizeram sucesso no resto do mundo como fazem aqui. Questionado sobre ter mudado o mercado editorial para jovens adultos, Green afirma que entende que resgatou um estilo que estava adormecido. Enquanto fantasias e distopias ganhavam as prateleiras e se tornavam best-sellers, ele apenas queria escrever sobre o que conhecia; nunca teve a intenção de também ser um best-seller, apenas falar sobre o amor, a amizade e tudo mais que envolve relações humanas e que o afligiu durante sua própria adolescência. Por isso ele consegue atingir tantos com facilidade.

Sobre sua própria adolescência, Nat contou que foi muito parecida com a de Q, principalmente em relação às amizades que mantém até hoje. Apesar de ter crescido em Nova Iorque, ele afirmou que a realidade de Q em Orlando é a mesma de muitos adolescentes no mundo todo, suas aflições e sonhos são os mesmos. Aliás, Wolff preza muito suas amizades e não deixou de comentar como todo o elenco ficou muito próximo.

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Voltando ao livro/filme, Green contou como teve a ideia para a história: durante uma viagem por Dakota do Sul, ele reparou numa cidade que não tinha ninguém, poucas casas e nenhum comércio. De volta em casa, pesquisando, descobriu que aquela era uma cidade de papel, o que chamou sua atenção. Aquilo o fascinou, e essa metáfora foi perfeita para a ideia do livro. O autor cresceu em Orlando e se sentia como Margo em relação à cidade, que tudo era muito perfeito e artificial, como uma extensão da Disneyworld, comparando aquela vida falsa às cidades de papel dos mapas. A história é muito próxima a ele, por isso ver o livro ganhar vida através de atores e cenários foi bem emocionante. Mas entrar pela primeira vez no cenário da loja abandonada foi uma experiência forte: era incrível ver seu mundo de mentira tomar forma.

Por fim, John Green comentou que escreve o que conhece e o que gosta, que não tem a mínima pretensão de ditar nada nem de guiar vidas, que ele apenas compartilha suas ideias e experiências com o público. Mas tem plena consciência de que suas palavras influenciam milhares de adolescentes e isso o deixa feliz, apesar de não se levar tão a sério. Esse deve ser o segredo do seu sucesso: um “adulto” com alma de adolescente que sabe que a vida deve ser divertida e não levada tão a sério.

Cidades de Papel estreia no dia 9 de julho.

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