Entrevista Livros

Juventude distópica

Por Frini Georgakopoulos

Romances distópicos tomam o gosto de jovens leitores e caem nas graças de Hollywood.

Romances distópicos chegaram para ficar, ou melhor, voltaram! No século passado, um mundo regido por um regime totalitário, que queimava livros, não admitia liberdade de expressão ou qualquer questionamento, foi narrado por Ray Bradbury e George Orwell em “Fanhereit 451” e “1984”, respectivamente, entre tantos outros maravilhosos livros sobre o tema. Nessas obras, os protagonistas, cansados de serem oprimidos, ousam questionar o porquê das coisas serem como são e causam um levante que nem sempre acaba bem. Mesmo assim, ele são eficazes em seu propósito, que é fazer o leitor, assim como seus protagonistas, questionar. Agora, o tema volta a ser abordado com um interessante diferencial: os protagonistas são adolescentes, o que diz muito sobre nossos dias atuais.

Na era da comunicação sem fronteiras, é comum todos – principalmente adolescentes – falarem o que querem em blogs, Twitter e demais redes sociais. Opiniões sobre tudo e todos estão na web para quem quiser ver e, é claro, comentar. Mas será o excesso de tecnologia um problema?

– Eu adoro tecnologia e a uso diariamente, mas acho que existe uma tendência de abusar desse uso e é isso que me preocupa. Quando estou no parque com meus filhos, deveria twittar sobre isso ou deveria me desconectar desse mundo virtual e aproveitar o momento? – questiona Ally Condie, autora do bestseller “Destino” (Suma Editora), em entrevista exclusiva.

Ally conta em seu livro – cujos direitos para o cinema já foram comprados pelos estúdios Disney – a história de Cássia, que vive em uma sociedade excelente, sem doenças ou crimes, mas que toma todas as decisões por seus cidadãos: o que vão vestir, comer, no que vão trabalhar, com quem vão casar e até mesmo quando vão morrer. Cássia vive feliz até passar por uma situação que a faz questionar seu coração e o quão realmente infalível é a Sociedade (com “s” maiúsculo).

Em “Destino”, a tecnologia é quase uma vilã, monitorando cada palavra dita, sonhos e até a habilidade de criar, já que nesse mundo – ou melhor, nessa época – as pessoas não sabem escrever à mão e são limitadas a reorganizar palavras em um sistema classificatório se quiserem escrever uma carta para alguém.

Segundo Ally Condie, quando dava aula para adolescentes, era quase impossível entender o que eles escreviam, já que o teclado era mais usado do que um lápis ou uma caneta. Além do valor pela escrita, a cultura – ou a falta dela – é outro tema muito presente em “Destino”, já que no livro ela foi limitada a 100 obras de arte, 100 canções, 100 poemas e 100 filmes. O resto deixou de existir.

– Tive essa idéia quando vi um daqueles livros “Os 100 Melhores Filmes”. Pensei, e se nós tivéssemos apenas isso? Quanto perderíamos? – explica Condie.

 Ditadura da beleza e voyeurismo violento

Assim como “Destino”, a série “Feios”, de Scott Westerfeld (Galera Record) (leia mais) também traz outra sociedade em que tudo é perfeito … até demais. Westerfeld narra a vida de Tally, uma jovem que está prestes a completar 16 anos e deixar de ser Feia. Como rito de passagem, Tally receberá uma grande operação que a transformará em uma Perfeita e, a partir de então, sua vida será só festa e badalação. Mas e se ser Perfeito implicasse deixar sua personalidade na mesa de operações, junto com suas opiniões? Vale a pena abdicar de quem você é para um rosto e corpo perfeitos?

Enquanto Westerfel usa a beleza como meio de controle da população e Ally Condie usa a harmonia, Suzanne Collins vai além e usa o medo.

Em “Jogos Vorazes” (Editora Rocco) (leia mais), Collins mostra um EUA chamado Panem e partido em 12 Distritos, controlados pela Capital. Para manter todos na linha, anualmente são realizados os tais Jogos Vorazes, que reúnem em uma arena 24 adolescentes que lutarão até apenas um sobreviver. E com transmissão ao vivo para todo o país!

A grande heroína de Collins é Katniss Everdeen, uma jovem que faz o que pode para manter sua família viva e vai parar na arena justamente por essa razão. Durante a trilogia, Katniss questiona, teme, enfrenta, foge e passa por tantos altos e baixos como qualquer um dos leitores passaria, a tornando extremamente real e eficaz em seu propósito. O filme “Jogos Vorazes” estréia nos EUA em 23 de março de 2012 e traz um elenco escolhido a dedo, incluindo o diretor Gary Ross (“Seabiscuit – Alma de Herói”) e Jennifer Lawrence (“Inverno da Alma” e “X-Men: Primeira Classe”) como Katniss.

“Destino”, “Feios” e “Jogos Vorazes” são protagonizados por jovens mulheres bastante diferentes, que vivem em situações bastante diferentes, mas que, no fim, querem exatamente a mesma coisa: liberdade. Claro que tanta dureza é amenizada com personagens “gatinhos” e corações divididos, afinal, a literatura jovem adulta também precisa ser relaxante ou perde seu público.

Romances distópicos levantam inúmeras questões não somente sobra liberdade de expressão, mas sobre as pequenas liberdades, geralmente não valorizadas pelos jovens que não viveram ou conheceram os terrores de uma ditadura. Jovens que hoje têm a tecnologia ao seu lado quando um país não os deixa se expressar – como foi o caso do uso do Twitter no Irã. Em casos mais light, eles têm em mãos livros ótimos, que falam sua língua, espelham os seus medos e despertam a vontade de conhecer a obra de Bradbury e Orwell, pois passam a entender que questionar é essencial para progredir.

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3 thoughts on “Juventude distópica
  1. Adorei esse post! Eu também venho notando essa ‘febre’ de literatura distópica. Desses, só li Jogos Vorazes, mas os outros parecem ser muito bons também. Eu acho muito legal termos livros do tipo voltados para os adolescentes (olha eu aqui falando como se não fosse uma! XD), pois é um gênero que não é só voltado para diversão como muitos por aí. Só fico triste quando, discutindo e vendo discussões sobre JV, vejo tantos leitores comentando sobre seus casais favoritos e quem ficou ou não ficou com quem…espero que isso mude e eles vejam que esses livros tem muito mais para oferecer.
    Abraços!

  2. Sou fã de distopia quase tanto quanto sou de utopia, hihiihhihii.

    Destino tem uma ideia MUITO boa, mas que na minha opinião não foi tão valorizada, eles optaram por dar mais atenção ao lenga lenga do romance.

    O que não acontece em Jogos Vorazes, muito pelo contrário. E é por isso que eu amo tanto essa trilogia, rs. Não vejo a hora de ver na telona. Já estamos em março?

  3. Amo Jogos Vorazes .-.
    Realmente esta virando febre a literatura distópica, com o lançamento do filme Jogos Vorazes isto provavelmente vai atingir um grau elevadíssimo.
    Estou pra começar a ler Feios e Destino não me interessou muito,

    Bjs, Fran

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