Fomos conferir a palestra de Ken Follett na Bienal do Livro de São Paulo.
Minha experiência com Bienal do livro é de dois em dois anos mesmo, frequento há décadas a do Rio e nunca vou para a de São Paulo. Nada contra a bienal paulista, ela só nunca me atraiu. Esse ano tudo mudou. Quando a Editora Arqueiro anunciou que o escritor galês Ken Follett vinha fui logo comparando a passagem e me programando, valeu cada segundo.
O sonho de consumo quando soube que Follett viria ao Brasil era autografar “Os Pilares da Terra”, o primeiro livro que li dele e o meu preferido. Tive que colocar esse sonho de lado porque as regras divulgadas pela editora diziam que só seria possível autografar um dos livros da Trilogia do Século (Queda de Gigantes ou Inverno do Mundo). Coloquei meu “Queda de Gigantes” na mala e segui para São Paulo.
A distribuição de senhas para a sessão de autógrafos começava às 8h do lado de fora da bienal. Cheguei um pouco depois de 7h30, já tinha uma fila com mais de 100 pessoas esperando, tudo organizado. Com a pulseirinha que me garantia um livro autografado mudei de fila, fui para a que me levaria para bienal. Uma pequena espera para que os portões abrissem (o que é uma bienal sem esperar na fila, não é mesmo?) e, pela primeira vez, estava na Bienal do Livro de São Paulo.
A caminhada rápida pela espaço antes de ir para a palestra do Follett me deixaram duas impressões: 1 – como ela é pequena; 2 – como os corredores são apertados. Tinha um roteiro traçado de que stands queria visitar e fiz tudo antes que o evento enchesse muito, o que aconteceu em menos de uma hora, comprei o que tinha planejado e segui para a palestra. Soube depois que a organização que vivenciei na entrada foi momentânea, muita fila para comprar ingresso e desorganização.
Follet foi uma simpatia desde o começo, falou bem pausadamente e parava a todo instante para que a tradutora entrasse em ação. Como a vinda dele estava relacionada ao lançamento do terceiro e ultimo livro da Trilogia do Século, “A Eternidade por um Fio” (lança em 16 de setembro), ele começou resumindo os primeiros livros e depois foi aberta a parte das perguntas.
Ken Follett discorreu sobre vários aspectos de sua obra. Falou que cresceu em uma família ultra religiosa que não o deixava ver televisão ou ir ao teatro e tudo o que ele fazia era ler livros na infância, com 12 anos leu um livro de Ian Flemming sobre James Bond e se encantou. “Quero que meus leitores tenham o mesmo entusiasmo que tive aos 12 anos lendo meus livros”. Como estratégia para captar a atenção de seus leitores ele usa as famílias. “Meus personagens têm família porque eu quero que os leitores se importem com eles” , esse envolvimento tem um ótimo efeito colateral, sei hoje sobre detalhes sobre as duas grandes guerras porque li vários romances históricos, não só os do Follett. Quando a leitura te faz torcer por um personagem os fatos se cristalizam se cristalizam, é mais eficiente do que qualquer aula de historia que já tive e olha que tive grandes professores de historia.
Perguntado sobre a dificuldade de escrever romances históricos Follett se valeu do famoso humor inglês e disse “É difícil colocar personagens fictícios na história, mas eu sou ótimo nisso” gerando risada na plateia. Todos os personagens reais que aparecem em seus livros falam ou agem de acordo com o que se conhece deles ou de seus escritos, usa até mesmo dados históricos mais controversos, mas tudo o que acontece em seus romances históricos tem embasamento.
Nesse momento ele também detalhou um pouco mais o seu processo de criação. Ele tem três etapas: primeiro ele faz uma pesquisa e escreve um primeiro rascunho; em segundo lugar entrega esse rascunho para familiares, professores de historia e editores; por ultimo ele pega todas as anotações entregues por quem leu o rascunho e reescreve tudo. Revelou que está trabalhando há oito meses em seu novo romance e que ele se passará no século XVI “É o tempo que o serviço secreto foi criado para evitar o assassinato da Rainha Elizabeth I”, para o delírio dos fãs disse que esse livro passará por Kingsbridge, a cidade central de “Os Pilares da Terra”.
Follett revelou que dos seus livros o preferido é “Os Pilares da Terra” e o personagem está no mesmo livro, é Philip. Ambas as respostas geraram aplausos dos fãs. Falando sobre suas preferencias disse que seu autor preferido vivo é Stephen King e morto é Shakespeare.
A conversa foi boa, Follett foi simpático com todos, a única decepção foi que na hora dos autógrafos a editora acabou permitindo “Os Pilares da Terra”, me deu uma certa dor no coração de não estar com o meu. Mesmo com essa decepção, que não é pequena, valeu a ida a São Paulo.