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Lava Jato

O livro de Vladimir Netto faz um panorama dos primeiros dois anos da operação Lava Jato

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A Lava Jato é uma força-tarefa da Policia Federal e do Ministério Público Federal , um escândalo político e agora um livro. O repórter Vladimir Netto tenta em quase 400 páginas contar o que foi descoberto nas investigações e as suas implicações políticas. A tarefa era hercúlea e Netto consegue montar um bom quadro de tudo que vem acontecendo, a operação continua atuando, desde 2014.

É impossível, por mais bem informada que a pessoa seja e eu sou, não ficar revoltada com o que se lê. Em um resumo bem tosco agentes políticos se aliaram as grandes empreiteiras e montaram um mega esquema de desvio de dinheiro, hora para enriquecimento pessoal, hora para financiamento de campanhas ou partidos. Infelizmente é algo que a maioria das pessoas achava que acontecia e ao mesmo tempo quando é desvendado é chocante.

Netto vai contando como uma investigação sobre doleiros e um posto de gasolina (daí o nome da operação) virou uma investigação que abalou e abala o país. Li o livro com as noticias sobre investigados povoando os jornais, não sei dizer se em 10 anos tudo o que é explicado seria entendido com a mesma clareza. Mergulhei nas páginas com um conhecimento prévio dos acontecimentos proveniente de leitura diária de jornais e acompanhamento atento das noticias, não sei se um leigo no futura conseguirá entender tudo o que está sendo contado. Falta tratar o leitor mais como um ET, alguém de chegou aqui de outro planeta e não sabe de nada e precisa entender. No momento isso não é um problema, mas será com o envelhecimento do livro.

Escrever sobre algo que ainda está acontecendo, sem o distanciamento histórico é, certamente, um desafio e Netto se sai bem. Consegue montar um panorama cronológico do que aconteceu e acontece. Tem um deslize aqui e ali onde ele mata o suspense, quando apresenta um novo personagem já diz logo que ele falará em delação premiada, mesmo que eu saiba que isso vai acontecer é mais interessante com narrativa deixar o leitor em suspense. O livro é escrito com esse espirito, o espirito de uma serie de TV, cheia de ganchos, de lances de sorte, de idas e vindas, de personagens se multiplicando. A Lava Jato dará, com certeza, uma ótima série para o Netflix (José Padilha já está produzindo) e falta um pouco desse espirito no livro, nada que comprometa a leitura.

Apenas um aspecto do livro me incomoda demais e começa pela capa, o endeusamento do juiz Sérgio Moro. A foto de capa sobre uma operação que envolve muitas pessoas ser uma pessoa só me incomoda, o retrato de pessoas super correta e com decisões aplaudidas também me parece um retrato de herói e não de uma pessoa. Moro, como mostra timidamente o livro, teve muitas decisões questionáveis e a sua condução da operação pode ter agradado muito pelo que desvendou mas não podemos nunca deixar de ver os erros, não é porque os resultados nos agradam que eles deixam de ser erros e devem ser corrigidos. O de maior impacto deles é a divulgação dos grampos telefônicos do ex-presidente Lula.

As polemicas que envolvem Moro e a operação são pouco debatidas ao longo do livro. Estão lá as reclamações dos advogados, do governo da presidente Dilma Rousseff, dos políticos citados, mas não há uma reflexão sobre os fatos e suas consequências, talvez falte um pouco de distanciamento histórico para esse debate, os ânimos ainda estão muito exacerbados de todos os lados e só devem melhorar na longínqua eleição de 2018.

“Lava Jato” é um livro que ainda não acabou assim como a operação e tem a vantagem de quando terminar de ler pegar o jornal mais próximo e encontrar os novos capítulos que existirão em uma edição revisada ou, quem sabe, uma continuação.

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