Coluna

Mafalda e a História

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Vivemos uma época bem complicada, tanto politicamente quanto socialmente. Nosso país acabou de sofrer um golpe político sério, passa por uma crise econômica grave, e socialmente nos sentimos andando para trás. Nessas últimas semanas também assistimos outros países ruírem, como a Inglaterra e seu referendum que a desliga da União Européia, jogando o país em um abismo econômico e num isolamento político. Além da Espanha passar por uma segunda eleição em seis meses, que deu força ao partido Conservador, em um episódio confuso com um primeiro-ministro sem maioria no governo. E assim os problemas se assomam, o que nos tem deixado bastante desanimados e pessimistas.

É, eu sei que você não veio aqui para se sentir pior do que antes, sei que precisa de uma distração, de um alívio. Bom, ler é uma boa forma de fugir da realidade, uma bem saudável e que só traz benefícios. Mas a leitura também nos ajuda a perpetuar a memória, porque é através da escrita que a humanidade guarda sua História e a passa de geração para geração. Aprender, guardar e ajudar a passar adiante essa História é o maior ato político que se pode cometer. Não precisa ser só através de livros acadêmicos, há como passa-la adiante através da literatura, das biografias, das crônicas e até de histórias em quadrinhos.

Lá nos anos 19mafalda0280, eu era pequena e amava ler as tirinhas do jornal. Não entendia muito bem todas, porque eram bem adultas para mim, mas, mesmo assim, me divertia. Até que conheci a menininha argentina de seis anos, que falava o que vinha à cabeça e que se preocupava muito com o mundo. Mafalda, do mestre Quino, vivia com sua mãe e seu pai, passava os dias com seus amiguinhos e entre assuntos familiares e de conversas de crianças, ela reclamava do mundo, discutia política e até assuntos sociais, como pobreza e preconceito.

Mafalda me ensinou a ver o mundo de outra forma, com um olhar crítico. Porque aquela menina lá dos anos 1960 falava de uma realidade muito próxima a minha, nos anos 1980. Crescemos juntas e a cada vez que relia suas tirinhas, entendia melhor o contexto político e as críticas. Mafalda me ensinou a ser feminista, a não aceitar a besteira dos outros, a entender a sociedade em que eu vivia e a prestar atenção melhor no mundo à minha volta.

É incrível como suas historinhas ainda são atuais, como elas encaixam tão bem ao mundo de 2016, mesmo 50 anos depois. Ela nos mostra como a humanidade sempre cai nos mesmos erros, como, mesmo contando a História, mostrando o que pode dar errado, ela continua cíclica. Como os períodos de revoluções são precedidos de uma calma quase inerte, que precisa ser chacoalhada para que algo aconteça e o mundo siga em frente.

Dizem que quando você está no meio do furacão você não consegue dimensionar o tamanho de sua fúria e menos ainda ter esperança em relação à calmaria. Lembrar do passado ajuda a te dar a perspectiva de quem está de fora, te ajuda a lutar contra o que pode dar errado. Por isso, acredito muito que a História é a arma mais poderosa que podemos ter, o conhecimento te proporciona armas para lutar, para criar perspectiva e pensar em um futuro bem melhor, mesmo que o furacão ainda esteja destruindo tudo.

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