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Mafalda faz 55 anos e continua atual

Quino criou a Mafalda em 1964 numa Argentina que vinha sofrendo golpes de estado desde a década de 1930. Tentando burlar a censura que acontecia com boa parte do conteúdo cultural criado no país, Quino desenvolveu essa personagem, que era uma criança, para falar sobre a realidade do país e o mundo em que vivia.

De acordo com a historiadora uruguaia Isabelle Cossa, que escreveu o livro Mafalda – História Social e Política, a personagem principal e sua família representavam a nova classe média argentina, dos anos 1960, mais intelectualizada e preocupada com questões sociais. Assim como seus amigos, que vão surgindo em seu universo, também são metáforas relacionadas aos personagens sociais da sociedade argentina da época.

Porém, entre 1964 e 1966 Quino foi criticado por nunca ter uma postura política clara, por Mafalda discutir assuntos mais globais do que locais, como conflitos entre Ocidente e o Oriente e a questão capitalismo X comunismo. Porém, com o golpe de Estado de 1966, Mafalda apareceu no jornal questionando “E aquilo que nos ensinaram na escola?” em clara alusão ao que estava acontecendo com a democracia. Esse foi o momento em que Mafalda deixou de ser um personagem de centro para passar a ser completamente anti-autoritário e porta-voz daqueles que lutavam contra o que acontecia. Ela ganhou popularidade e passou a ser usada como resistência ao novo governo.

Tudo isso aconteceu lá em 1966, e Mafalda foi publicada até 1973, quando Quino resolveu parar com as tirinhas. Mas estamos aqui em 2019, vendo o mundo mais uma vez polarizado, com um governo que não reconhece como funciona a democracia, enquanto celebramos 55 anos de uma personagem que foi símbolo de uma resistência que volta com força total, porque o passado não pode se repetir.

No início desse ano, algumas tirinhas da Mafalda foram compiladas em um volume especial totalmente dedicada ao feminismo, que mostra que a questão de gênero está completamente relacionada a um mundo mais justo. Enquanto algumas pessoas seguirem tentando se apegar a valores antiquados, haverá a necessidade de resistência. Mafalda ressurge como mais um símbolo potente dessa resistência, por isso ela continua tão atual, 55 anos depois de sua criação.

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