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Mamãe & Eu & Mamãe

“Meu amor, procure estar preparada para qualquer situação que você possa encontrar pela frente. Não faça nada que acredite ser errado. Faça simplesmente o que acha que é certo e depois esteja preparada para bancar sua decisão, ainda que seja com a sua própria vida. Tudo o que você disser deve ser dito duas vezes. Ou seja, uma vez você diz para si mesma e, em seguida,se prepara para dizê-lo nas escadarias da prefeitura e esperar vinte minutos até atrair uma multidão. Nunca faça isso para ser notícia. Faça para que todos saibam que o seu nome é sua garantia, e que você está sempre pronta para bancar o seu nome. Nem toda situação negativa pode ser resolvida com uma ameaça de violência. Confie em seu cérebro para encontrar a solução e, depois, tenha a coragem de segui-la.”

A autobiografia de Maya Angelou e a vida com sua mãe é antes de mais nada inspiradora. Eu sei, eu sei, é muito clichê, mas não há outra palavra que descreva melhor a história tão profunda e as palavras tão inspiradoras as quais nos deparamos em “Mamãe & Eu & Mamãe”. Atriz, bailarina, cantora, diretora de cinema, escritora, poeta e ativista. Maya Angelou (1928-2014) possui tantas facetas que é impossível não se inspirar em sua trajetória. Maya é um símbolo da luta pelos direitos civis, e toda a sua obra representa um enorme ato de resistência contra o preconceito racial e a segregação às mulheres nos EUA.

A vida de Maya em si é daquelas que te faz pensar e repensar a sociedade. Ainda muito nova, com apenas três anos, ela e o irmão foram deixados com a avó, após a separação dos pais. Quando tinha sete anos Maya foi levada para passar um tempo com a mãe, que à época possuía um namorado, e foi estuprada por ele. Maya contou da violência sofrida para o irmão e o estuprador foi preso e, após sua soltura, foi assassinado. Maya, traumatizada com o poder de suas palavras que foram capazes de “causar” a morte de um homem, passou cinco anos sem falar com ninguém exceto o irmão.

Nesse processo de recuperação, até voltar a falar, Maya se encontrou na arte. Entre livros clássicos, música gospel e poesias, a menina cresceu com um sentido aguçado para o mundo artístico e já ali percebia o poder curativo e a força das palavras em todos os seus formatos. Já com 13 anos, Maya e seu irmão voltaram para Califórnia, a fim de se reconciliarem com a mãe. Se na arte ela conheceu o poder das palavras, na vida com “Lady” (como chamava sua mãe) foi quem aprendeu que o racismo e machismo precisam ser enfrentados, e criou ainda mais voz e força para se tornar independente e encarar a sociedade em nome do que quer e acredita.

Lady (Vivian Baxter) é um “personagem” tão forte quanto Maya Angelou, era empresária, agente imobiliária, dona de casas de apostas, enfermeira, e nunca fugiu de uma boa briga. Corajosa e ciente de seu papel no mundo enquanto mulher negra, desafiou padrões e lutou por visibilidade e respeito. Certa vez se filiou à marinha mercante, só para provar que era capaz, ao descobrir que as mulheres eram proibidas de se filiarem ao sindicato da categoria. Quando Maya estava insegura de ser stripper em uma casa noturna, Vivian a apoiou e ainda a levou pra comprar os figurinos.

A autobiografia mãe-filha de Maya Angelou tem tantos incidentes relevantes e inspiradores que, se não estivéssemos falando de alguém com uma trajetória tão conhecida, dava até pra dizer que é ficção. Maya foi a primeira mulher negra roteirista em Hollywood, e passou de stripper a professora universitária, sem nunca perder de vista o ativismo pelos direitos dos negros e das mulheres e, é claro, sendo ainda escritora e poeta. Uma pessoa tão múltipla só poderia resultar em uma biografia rica e inspiradora de se conhecer. Agora multiplique isso por dois. A relação mãe e filha, tão frágil no início, vai se fortificando aos poucos e é muito interessante perceber como as histórias das duas se entrelaçam tão intensamente. “Mamãe & Eu & Mamãe” não é só a história da vida de alguém. É inspiração na forma de duas mulheres que tomaram em suas mãos as rédeas de seus destinos quando isso absolutamente não era permitido.

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