Coluna Livros

Maria Graham e seu Diário de uma Viagem ao Brasil

 

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Maria Graham nasceu na Inglaterra em 1785 e teve uma vida extraordinária para uma mulher no século XIX. Filha de um oficial naval, aos 23 anos ela viaja para a Índia com o pai e lá se casa com um jovem marinheiro escocês. Ao invés de se dedicar ao serviço doméstico enquanto o marido estava em alto mar, Graham trabalhou como tradutora e editora de livros, além de publicar suas próprias obras de não-ficção, como um relato de sua estadia na Itália.

Em 1821 ela acompanha o marido em uma viagem ao Chile, durante a qual passam um breve período no nordeste brasileiro e no Rio de Janeiro, relatado em detalhes em seus diários. Pouco antes da chegada a Valparaíso, Graham fica viúva e se vê sozinha a um oceano de distância de seu país e família. Ao invés de retornar para a Inglaterra prontamente, ela decide alugar uma casa e passa um ano vivendo entre os chilenos. Sobre esse período escreveu e publicou Journal of a residence in Chile during the year 1822; and a voyage from Chile to Brazil in 1823.

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Ao retornar para o Brasil em 1823, Graham encontra um país muito diferente do que deixara: agora não mais parte do império português, mas sim uma nova nação ainda passando pelas turbulências da recente independência. Ao se assentar no Rio de Janeiro, Graham testemunha o dia a dia da elite na corte. Atenta a cada detalhe, ela aprende português e mergulha em leituras de jornais e livros sobre história do Brasil na ainda jovem Biblioteca Nacional. E registra tudo em seus diários, que publicou em Londres em 1824 (Journal of a voyage to Brazil, and residence there, during part of the years 1821, 1822, 1823 – publicado no Brasil como “Diário de uma Viagem ao Brasil”).

A leitura de Journal of a voyage to Brazil não é das mais fluidas. Por se tratar realmente de um diário de viagem, há passagens absolutamente monótonas. Porém a leitura vale para aqueles que se interessam pela história do Brasil e nossa cultura. Há curiosidades muito interessantes nas descrições, como por exemplo nesta passagem em que fala dos hábitos alimentares dos brasileiros do início do século XIX – que pouco diferem do século XXI:

“O grande artigo de comida aqui é a farinha de mandioca; ela é transformada em um pão fino como uma iguaria, mas o modo usual de comê-la é seco: quando nas mesas dos ricos, ela é consumida com todos os pratos de que eles comem, assim como nós consumimos pão; com os pobres, tem todas as formas – mingau, pirão, pão; e nenhuma refeição é completa sem ela: ao lado da mandioca, o feijão seco, preparado de todas as maneiras possíveis, mas mais frequentemente cozido com um pedacinho de carne de porco, alho, sal e pimenta, é a comida favorita; e para as sobremesas, do nobre ao escravo, doces de todas as formas, das mais delicadas conservas e doces aos mais grosseiros preparados de melado, são engolidos por atacado.” 

Maria Graham foi uma das pouquíssimas mulheres a escrever sobre suas experiências na América do Sul no início do século XIX. Seu Diário de uma Viagem ao Brasil é um relato em primeira mão das transformações do Brasil no período da independência de valor inestimável para os amantes da nossa história.

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