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Me Chame pelo Seu Nome

“Me Chame pelo Seu Nome” é desses livros que eu nem sabia que existia até que o filme (veja o trailer) foi lançado e fui pesquisar sobre. A obra de André Aciman foi escrita em 2007 e ganhou toda uma nova vida com o filme de Luca Guadagnino que está recebendo várias indicações na temporada de prêmios do cinema americano. O romance entre o adolescente Elio e o estudante Oliver mostra todo o talento de Aciman para envolver o leitor em uma história simples e que, de certa forma, já foi contada e recontada diversas vezes.

Todo o livro é contado em primeira pessoa por Elio, um adolescente de 17 anos, que vive com os pais professores universitários em uma villa na Itália. A casa recebe estudantes que estão trabalhando em suas teses durante o verão e é assim que Oliver entra na vida da família. Elio é um típico protagonista de livros e filmes, ou seja, um adolescente culto, conhecedor de bem mais do que se espera de alguém de sua idade, introspectivo e com poucos amigos. Estar dentro da cabeça de Elio é o melhor e, ao mesmo tempo, o que mais me enervou no livro. Ele tem todas as incertezas e inseguranças dos adolescentes e todas elas são maravilhosamente escritas, mas todas as elucubrações que Elio faz sobre cada gesto, olhar e ausência de Oliver, apesar de perfeito como caracterização de alguém com 17 anos me cansou um pouco.

O romance, todo vivido durante um maravilhoso verão na costa italiana, é um conto sobre paixão, descoberta, entrega. A primeira parte do livro é toda de Elio e suas percepções do que está acontecendo, a segunda parte é onde o romance entre eles realmente começa a se desenvolver e todo o talento de Aciman fica ainda mais evidente. O reconhecimento de Elio de sua bissexualidade entre Marzia e Oliver é pincelado na primeira parte e é burilado lindamente na segunda. A terceira parte é inteira de Oliver e Elio e sua relação e tem aquele clima de romances inesquecíveis de verão que irão embora quando o sol deixar de ser tão inclemente e a vida tiver que voltar ao normal. Algo tão batido e que aqui se prova que pode seduzir mesmo assim, baste ter um bom escritor executando. A quarta e última parte do livro seria desnecessária se não tivesse uma cena linda entre Elio e seu pai, ela vale por isso e depois se alonga tentando dar um fecho para algo que seria melhor deixado no ar.

Não foi uma leitura fácil, a adolescência de Elio me enervava e ao mesmo tempo o talento de Aciman em me enervar me levava de volta às paginas. É um bom livro e agora espero ansiosamente para ver o filme.

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6 thoughts on “Me Chame pelo Seu Nome
  1. Carolina, em primeiro lugar, parabéns. É a primeira crítica do livro que leio a perceber que o livro é 100% Elio, é Elio se lembrando do verão de 83 (vamos convencionar que seja 83, o livro não precisa o ano, o filme é que o faz, justamente 1983). A narração é totalmente dependente da visão de Elio, de suas lembranças e sentimentos sobre o ocorrido. A falta de um narrador onisciente nos deixa no escuro sobre todos os outros personagens, que são apenas “cacos” de personagens, com exceção de Oliver, do qual mesmo assim só temos o que na academia chamamos de “visão espelhar”, isto é, o que vemos de Oliver é na verdade o reflexo dele (sempre com alguma distorção) refletido na mente de Elio. Portanto, se temos mais do que cacos sobre Oliver, mesmo assim é bem pouco. O livro é Elio puro.

    Achei curioso você se queixar da verborragia ou da imaturidade adolescente do início do livro, dado que o Elio que narra o verão de 83 é o Elio de 2003 (do final do livro, passado 20 anos depois, ou 5 anos depois do primeiro encontro 15 anos depois de 83). O Elio narrador tem 37 anos (!). Leia no 1º parágrafo, Elio assume estar recordando fatos distantes (“Fecho os olhos, pronuncio as palavras e estou de volta à Itália, tantos anos atrás…”). Que é aliás uma das chaves do livro: em pleno 2003 Elio continua preso (mesmo que sem melodrama) naquele verão, pronto a continuar de onde pararam.

    De toda forma, eu também me incomodo com o estilo de Aciman, precisamente essa obsessão em nunca sair da cabeça de Elio (como você lindamente definiu), porque é uma postura que transforma a trama em um caldo inconclusivo de lembranças e atos sem explicação. Se há quem se queixe da dúvida em torno de Capitu, em torno de Elio as dúvidas são ainda maiores.

    Sinceramente, não vejo sentido em dizer: “o amor entre os dois acabou porque era para durar apenas um verão”. Quem decretou essa norma?

    Aciman faz questão de traçar um quadro de entrega absoluta, bem além da paixão pueril, para depois tudo se esvair sem maiores explicações. Um Oliver mais densamente construído (quem, afinal, ele era?) responderia muita coisa. Mas só sabemos o (pouco) que Elio sabia…

    Tudo é coerente, porém, com a estrutura narrativa usada por Aciman. Repare quando ficamos sabendo o nome do tal hóspede sedutor e inacessível (depois de OITO páginas falando sobre ele). Só sabemos que o narrador se chama Elio ainda depois.

    Aciman dá informações a conta-gotas e mantém indefinições eternas (o local onde se passa o verão [a enigmática “B.”, perto de “N”], o ano preciso do tal verão, o nome dos pais de Elio, a especialidade do pai de Elio, onde eles moram de fato etc.). Poucos personagens têm nome, tudo é mesmo muito centrado no par central, sempre pela visão de Elio.

    Há também questões inverossímeis, como um Elio atlético demais para ser solitário (meninos sensíveis e artistas raramente são atléticos, meninos esportistas nunca são solitários) e um Oliver que ‘decide’ anular sua bissexualidade (a qual só podemos cogitar juntando os indícios, pois nada sabemos dele de fato) e depois disso assume uma fidelidade à esposa que nem os héteros praticam. Nestes dois pontos, há um pouco a tentativa de fugir dos estereótipos gays (o próprio Aciman assume isso) que, por bem intencionada que seja, acaba caindo na fantasia excessiva…

    Enfim, não sei gosto de tanta subjetividade, a ponto de aspectos fundamentais permanecerem obscuros. Ainda não me decidi.

    1. Arnaldo, obrigada pelo comentário. Por mais que Elio escreva com 37 anos ele ainda é aquele adolescente em dúvida de quem é realmente. Pode ser que ele ainda esteja preso naquele verão ou não , a questão é que sua verborragia é típica de um adolescente intelectual, ou pelo menos, do estereotipo que temos desse tipo de personagem. Eu curti mais o livro do que o filme mesmo tento ficada cansada de “viver” por centenas de páginas na cabeça de Elio.

      1. Não toquei no filme por, no texto, você dizer que ainda não o tinha visto. Claro que era uma declaração “antiga”, mas não iria ser eu a me arriscar a adiantar a discussão. Evitemos os spoilers… rsrs Sim, para mim o filme idealiza ainda mais, muito mais que Aciman. Alguém escreveu (sobre o filme) que parece uma novela de Manoel Carlos, e eu ri muito, porque pensei a mesma coisa. Esperava uma Helena entrar pela casa a qualquer momento… (Leblon italiano, Leblone!) Há etapas fundamentais da trama eliminadas no filme, principalmente as duas passagens romanas: o despertar do desejo homossexual de Elio e a viagem do fim do verão. No livro, os moços fazer uma “lua de mel a Campos do Jordão” (ou Teresópolis), não é? rsrs A bissexualidade de Elio é também matizada no filme, mostrada mais como fruto da “confusão” de Elio do que uma condição real. Claro que são opções a priori válidas em uma adaptação para uma linguagem diferente. Mas para mim apontam para uma simplificação e um “adocicamento” deliberados da relação Elio / Oliver, seguindo padrões românticos escapistas (todos e tudo lindos) típicos do romance mainstream de Hollywood. Talvez por isso, aliás, tantos elogios. É o cinema gay chegando ao mainstream (e sendo comemorado por isso). Nada de verismo, vamos partir para a idealização (barata).
        Enfim, também gostei mais do livro, por ser menos idealizadamente romântico (em Roma o apaixonado Elio cogita amar mulheres – quem sabe a 3, com Oliver – algo impensável para o Elio linear do filme). Mas ainda me incomoda a narrativa subjetiva lacunar de Aciman. Acho que sou iluminista demais para fechar os olhos e aceitar o que vier…

        1. ops, onde se lê:
          No livro, os moços fazer uma “lua de mel a Campos do Jordão” (ou Teresópolis), não é? rsrs

          leia-se:
          NO FILME, os moços fazer uma “lua de mel a Campos do Jordão” (ou Teresópolis), não é? rsrs

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