Filme

A Montanha Entre Nós

Alguns filmes dependem muito das escolhas do diretor, os cortes, as tomadas e até a forma que alguns diálogos acontecem. Parece uma afirmação óbvia, mas nem sempre isso é muito perceptível em um filme. Filmes autorais são diferentes, eles têm uma assinatura e as escolhas do diretor não te incomodam, mas quando elas quebram o encanto do filme, também corta a sua conexão com a história. Esse é o maior problema de A Montanha Entre Nós (The Mountain Between Us, 2017, EUA). Curioso que o filme é dirigido por Hany Abu-Assad, responsável pelo maravilhoso “Paradise Now”, ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro em 2006 e “Omar”, também ganhador do Oscar em 2014. É curioso perceber as escolhas feitas para contar essa história, de um diretor nada óbvio e nada clichê.

Ben (Idris Elba), é um médico, neurocirurgião, britânico, que precisa operar um paciente. Alex (Kate Winslet), é uma fotógrafa e jornalista, que precisa voltar para casa porque irá se casar no dia seguinte. Por causa do mau tempo, o vôo deles é cancelado, o que os leva a fretar um avião particular com um piloto local (Beau Bridges). Porém o piloto sofre um ataque cardíaco em pleno vôo e o avião cai em uma cadeia de montanhas, no meio do nada. Sobrevivem Alex, com a perna quebrada, Ben, com a costela quebrada e alguns ferimentos leves e o cachorro do piloto. Sem rádio e celulares, os dois precisam fazer de tudo para sobreviver ao frio intenso de novembro, o que acaba os aproximando e um se apaixona pelo outro.

Bom, o filme é baseado no livro homônimo de Charles Martin, que tudo indica, não participou da adaptação do roteiro do filme, o que pode ser um problema. Mas o problema do filme não é enredo e sim escolhas de como conta-lo, o que podem ser problemas do livro também. Antes de mais nada, o filme conta com um enorme ponto positivo: o elenco. Kate Winslet e Idris Elba são dois monstros na tela, suas atuações são mais do que convincentes e todas as situações que exigem maior emoção deles, se tornam grandes momentos do filme. Mas o mérito é sem dúvida nenhuma deles dois.

O problema é que o filme é todo formado de grandes momentos de emoção, já que os dois personagens se encontram em uma situação de alto risco de vida. Talvez um diretor mais contido conseguiria realizar um grande filme, focando em toda a tensão entre os personagens, que é o trunfo do filme. Porém há intermissões desnecessárias, para provocar mais suspense, o que é totalmente supérfluo .

Essa é uma história de amor entre dois adultos maduros, que estão em seus 40 anos. Não são jovenzinhos. Ben é viúvo (como o trailer mostra) e Alex irá se casar, mas passa a viver um conflito interno ao se apaixonar por Ben. Boa parte dos diálogos entre eles é muito bem construído, já que ambos têm total consciência da situação emocional em que se encontram. Ao mesmo tempo, há situações irritantes, já que Alex é um jornalista que viaja o mundo inteiro para áreas de conflito, que se mostra independente e forte. Tudo indica que sua carreira é muito importante para ela, mas todo esse empoderamento se quebra no momento em que ela fica curiosa sobre a vida de Ben e passa a bisbilhotar as coisas dele como uma adolescente apaixonada. Além de toda a situação de ela estar com a perna quebrada e, por isso, completamente vulnerável e dependente. Mais um fator que quebra a força da personagem.

Talvez o problema do filme seja o problema do livro, ter um personagem masculino forte e bem construído e uma personagem feminina que, aparentemente, é forte mas acaba sendo apenas a pessoa pela qual Ben irá se apaixonar. Um roteiro mais bem construído e um diretor mais contido com certeza teriam realizado um grande filme de amor. Existem péssimas adaptações, mas existem adaptações que salvam péssimos livros, esse poderia ser o caso aqui, mas não é. De forma alguma A Montanha Entre Nós não é um péssimo filme, bem longe disso, mas, sem dúvida, poderia ser bem melhor.

Similar Posts

2 thoughts on “A Montanha Entre Nós
  1. Poxa, Rapha. Que pena que você não curtiu muito. Eu adorei! Talvez por não ter lido o livro, não consegui fazer uma comparação. Mas de qualquer forma entendo seus apontamentos, mas gostei bastante do filme de forma geral 🙂

    1. Oi, Nina.
      Faltou um não ali no fim do texto, mas mesmo assim fiquei um pouco decepcionada com o filme. Ele cresce, cresce e de repente empaca. Poderiam ter trabalhado melhor a interação dos personagens. Pra mim faltou alguma coisa.
      Beijocas e muito obrigada pelo comentário 😉

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *