Resenhas

Nação Crioula

nacao crioulaO angolano José Eduardo Agualusa pega emprestado um personagem de Eça de Queiroz, Fradique Mendes, para construir um romance epistolar que mostra o que aproxima Angola, Brasil e Portugal, nações que hoje parecem tão distantes.

Sempre me intriga a falta de intercâmbio literário entre as nações lusófonas, ainda mais porque temos tanto em comum. Pegar um livro escrito por um angolano como o Agualusa e começar a ler quase não se percebe que escrito por alguém que não é brasileiro. As maioria das referencias nos são familiares, o ritmo e a construção da narrativa também. É mais simples compreender um livro escrito por um africano lusófono do que por um português, pelo menos para mim. Não que romances portugueses sejam incompreensíveis, só são diferentes e as diferenças saltam aos olhos o dos africanos não.

Tenho que confessar que não conhecia Fradique Mendes, narrador central do livro e personagem originalmente de Eça de Queiroz, só soube do empréstimo de personagem que Agualusa tinha feito depois de terminar de ler o livro e isso fez com que “A Correspondência de Fradique Mendes” entrasse na minha lista de futuras leituras. As cartas de Fraquide a Madame Jouarre, a Eça de Queiroz e a nossa heroína Ana Olímpia são o que constroem a narrativa, é um romance epistolar clássico. Vamos conhecendo as aventuras de Fraquide ao conhecer Luanda através de suas impressões enviadas para sua madrinha, particularmente adoro um bom romance epistolar e esse é um deles.

Fradique se apaixona por Ana Olímpia, uma filha de escrava que se casou com o dono da mãe, a primeira vista e é esse amor que vai nortear a narrativa. O marido de Ana Olímpia é um personagem secundário que se impõe por ser um traficante de escravos. O debate sobre a escravidão é um pretexto para se falar sobre como o trafico negreiro e a escravidão foram importantes para a construção da identidade brasileira e angolana e como essa migração forçada de africanos de diferentes tribos e nações nos une a África bem mais do que debatemos por aqui.

Não querendo contar spoilers vou dizer apenas que Ana Olímpia e Fradique vem parar em Olinda e acabam donos de um engenho no Recôncavo Baiano. É aqui no Brasil que o caminho de Fradique se cruza com José do Patrocino e Joaquim Nabuco e a causa abolicionista. O debate com Ana Olímpia que liberta seus escravos nas fazendas e não os da casa é ótimo e tem uma triste semelhança com certos argumentos sobre a lei dos empregados domésticos.

Sou fã do Agualusa, leio todos os seus livros que chegam em terras tupiniquins e esse é um dos que mais recomendo. É desses livros que mostram o quanto perdemos ao não olharmos para os demais países lusófonos, ficamos lendo traduções e acabamos perdendo todo um mundo que nos é tão familiar e que ignoramos na maior parte do tempo.

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