Coluna

O escritor e a arte da desambição

Dia 25 de julho foi Dia do Escritor e, como já disse aqui uma vez, sempre tento homenageá-lo, ainda que de forma capenga, escrevendo um conto, uma diálogo, uma história, um tweet. É importante pra mim reconhecer este dia como algo que eu faço parte. Escrevo contos, diálogos, histórias e tweets em outros dias também, é claro, mas nesse dia em especial é como se eu estivesse fazendo aniversário. A gente sabe que é um dia como outro qualquer, mas com uma desculpa incrível para comer bolo! E nessa última quarta-feira do mês comemorei meu segundo aniversário como escritora pós-publicação do livro #Fui. É pretensioso da minha parte? Provavelmente. Mas me faz dormir melhor à noite. Tipo astrologia. Gera um certo conforto nos situar numa caixinha, quando não temos como explicar quem somos e por que agimos como agimos. =)

Falando em pretensão (olha eu aqui forçando uma ponte pra começar a falar do verdadeiro tema da coluna, haha), queria comentar com vocês algo que venho aprendendo cada vez mais nessa profissão ligada à escrita: a arte da despretensão, ou desambição, para ficar igual ao título.

Pode parecer, a princípio, inocente separar o artista da ambição de sua arte, já que, afinal, é uma obra feita por ele, algo que tomou tempo e energia, o resultado é a soma de todo um esforço mental e físico, logo, sua arte é linda e incrível, a melhor coisa já feita pelo ser humano, inigualável, e tudo o que o artista quer é vê-la exposta imediatamente para o mundo todo também poder ver e reconhecer o gênio por trás dessa peça magnífica… *respira fundo*

Só que não.

Claro que existe expectativa quanto ao que a gente cria, a gente fantasia sobre o futuro, as possibilidades e as consequências, mas eu acho de verdade que tudo isso é ruído. Todas as vezes, absolutamente, todas as vezes que eu sentei para escrever algo, sem noção nenhuma do que ia fazer depois com o texto, foram as vezes que me senti mais à vontade, que a escrita fluiu melhor e que mais fiquei satisfeita com o resultado.

Quando alguém me pergunta por que eu escrevo e pra quem, por mais piegas, falso ou clichê que isso soe, sempre respondo a única verdade que eu conheço: escrevo pra aprender a me entender e viver melhor. Às vezes, é algo que estou vivendo ou que alguém que eu conheço esteja passando, seja o que for, pra mim sempre fica mais fácil de entender, de simpatizar com a situação, depois que escrevo sobre ela. Faço isso desde criança com meus diários.

Como editora, eu recebia muitos e-mails de pessoas que ainda estavam escrevendo o primeiro livro, muitos de gente que ainda nem tinha começado a escrever, e já queriam saber se a editora tinha interesse em publicá-lo.
Reconheço que a ansiedade seja um mal desse século, e nossa cultura do consumo, do mercado de trabalho e da importância que damos a pessoas famosas contribua para essa insegurança e pressa para nos estabelecer numa profissão aparentemente de destaque. E de fato, acredito que a escrita devia receber mais apoio e os escritores aprendessem a se profissionalizar melhor, planejando, se preocupando com o dia de amanhã ao traçar objetivos e estudando mais o ofício. Porém, no momento da escrita, pensar nos obstáculos de um futuro, que talvez esteja bem distante, é contraproducente. Primeiro, você cria a obra. Conte uma boa história. Ela vai acabar dizendo a você o que fazer com ela. Ou não. Quem é que sabe?

Por outro lado, você não quer perder seu tempo precioso com algo que “não vai dar em nada”, como já ouvi muitos falarem, inclusive de autores consagrados. Mais um sintoma da nossa cultura do consumo. Você não tem como realmente saber se o que está criando vai dar em alguma coisa ou não, sem contar que “dar em alguma coisa” pode ter inúmeros significados e significantes. Desde criança, escrevo para aprender comigo mesma e com os outros. Posso dizer que isso “deu em alguma coisa”. Não precisei monetizar todos os textos que escrevi até hoje para entender como “sucesso”.

Tenho contos na “gaveta” que me ajudaram a passar por muitos momentos da minha vida. Se algum dia eles vão entrar na minha lista de textos publicados, eu não sei, mas absolutamente nenhuma letra ali desenhada ou digitada foi perda de tempo. Todos “deram em alguma coisa”.

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