King é Rei

O Iluminado vs O Iluminado

Uma das maiores tretas que já existiu é a entre Stephen King e Stanley Kubrick por causa da adaptação do livro O Iluminado. O mais curioso dessa história é que tanto o filme quanto o livro são considerados grandes obras de ambos. O problema é que Kubrick era famoso por fazer adaptações bem livres de livros, como “Laranja Mecânica” e “Lolita”, por isso, “O Iluminado” não foi diferente. King estava começando a despontar como um escritor promissor, com dois livros lançados, entre eles um livro de estreia de enorme sucesso e já com uma adaptação no cinema bem-sucedida: “Carrie”.

King fez um acordo com a Warner (que dura até hoje) e vendeu os direitos do livro. Kubrick trabalhou no roteiro ao lado de Diane Johnson e não houve qualquer envolvimento de King nesse processo. O resultado é um grande filme de terror sobre um homem perseguido por seus demônios internos, num inverno rigoroso, preso em um hotel fechado no Colorado, com sua família. Jack Nicholson imortalizou Jack Torrance com uma atuação maravilhosa e não há nenhuma dúvida quanto a isso. O filme claustrofóbico de Kubrick realmente merece estar até hoje entre os melhores filmes de terror já realizados, mas ele não é tão rico quanto o livro e nem uma boa adaptação da história que King escreveu.

Claro que muito se perde ao levar uma obra literária para o cinema, principalmente uma escrita por Stephen King que prima por alguns preciosismos e longas narrativas. O problema é que Kubrick realmente decidiu contar a mesma história do seu jeito e do seu ponto de vista, que é o do pai alcóolatra, frustrado que acaba sucumbindo a pressão. O problema é que ele acabou negligenciando os outros personagens, principalmente o menino Dany, que é construído de uma forma tão rica no livro e no filme se perde, sendo que ele é o foco principal do livro, ele é o iluminado.

Não desgosto do filme do Kubrick, muito pelo contrário, já revi diversas vezes e consigo ver sua genialidade em várias cenas que se tornaram clássicas. Mas ao mesmo tempo o livro é um dos meus favoritos do King, perdendo apenas para “A Dança da Morte”. Todos os personagens são muito bem desenvolvidos, o desespero crescente de Wendy Torrance, esposa de Jack e mãe de Dany, é palpável no livro, é por ela que você torce. Assim como que o pequeno Dany que está aprendendo a lidar com seu poder, deixando seus pais apreensivos. Wendy e Dany observam Jack enlouquecer junto com o leitor, mas reagem a essa loucura de uma forma muito mais proativa no livro do que no filme. Essa é a escolha que Kubrick fez que me incomoda, de tornar Wendy e Dany meros observadores da loucura de Jack.

Há pouco tempo, Stephen King deixou claro no twitter que ainda repudia esse filme, quando um site escolheu as cinco melhores adaptações de livros dele e o primeiro lugar ficou com O Iluminado. Ele logo pediu que a adaptação fosse tirada da lista. E posso soar como a fã louca incondicionada que concorda com tudo, mas nesse ponto eu realmente concordo com o King. O filme O Iluminado realmente é um grande filme, mas não é uma boa adaptação de seu livro. A forma como a Warner o tratou na época, o afastando do projeto, a falta de respeito com sua opinião sobre a resultado final e todo o rancor que ficou entre ele o Kubrick, são trazidos à tona até hoje quando acontece qualquer discussão sobre o filme ou o livro. Sem dúvida nenhuma é uma briga que ajuda a aumentar a curiosidade sobre livro e filme, sendo até positivo. Porque quem decide comprar a briga e descobrir por conta própria quem está com a razão (o King, claro), acaba sendo presenteado com duas grandes obras.

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