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O Index de Rôndonia

Na semana passada a Folha de São Paulo noticiou que o secretário de educação de Rondônia mandou recolher livros das escolas públicas. O secretário Suamy Vivecananda primeiro negou a informação, disse que era fake news, depois disse que iria apurar o ocorrido, um áudio acabou confirmando que a lista foi feita por ordem do secretário. O Ministério Público está investigando o caso e os livros não foram recolhidos graças a imprensa.

Segundo o documento da secretaria estadual de Rondônia os livros deveriam ser recolhidos por conter “conteúdos inadequados” para crianças e adolescentes. Na lista, além do recolhimento de todos os livros de Rubem Alves, temos livros como “Memórias Póstumas de Brás Cubas” de Machado de Assis, “Macunaíma” de Mário de Andrade, “A Vida como ela é” de Nelson Rodrigues e “Agosto” de Rubem Fonseca. São 42 livros listados, na sua grande maioria, clássicos da literatura nacional.

O Index Librorum Prohibitorum, lista de livros proibidos pela Igreja Católica, foi criado em 1559 e abolida em 1966. É trágico que no século XXI estejamos falando sobre censura a livros uma das principais e mais conhecidas práticas de Estados autoritários e ditatoriais. Livros são realmente muito perigosos e devem ser temidos e perseguidos por pessoas que só chegaram ao poder através do medo e da mentira. Livros têm “muita coisas escrita” e essas coisas fazem com que as pessoas pensam por si só, criam empatia, dúvidas, fazem com que sejamos capazes de elaborar perguntas incômodas.

Uma das coisas escritas que li e que carrego comigo sempre que escrevo, seja aqui ou em um e-mail ou em uma simples mensagem de WhatsApp, é que o objetivo da novilingua em “1984” é que as pessoas tenham um vocabulário tão parco e limitado que sejam incapazes de se rebelar contra o Grande Irmão ou, em outras palavras, um estado opressor e ditatorial.

Demétrio Magnoli em seu comentário no programa “Em Pauta’ da GloboNews disse que livros foram feitos para causar desconforto, que quanto maior o desconforto causado melhor é o livro. Concordo plenamente com ele. Livros, qualquer livro e não apenas os clássicos, despertam sentimentos mais diversos nos leitores, esses sentimentos são experiências únicas e pessoais e, talvez, por isso sejam tão temidos. Como você controla algo que é tão individual e único? Não há como. Não podendo controlar os autoritários proíbem. Basta ler sobre os mais diversos períodos sombrios da história da humanidade.

O estado de Rondônia não conseguiu retirar os livros das escolas graças a imprensa livre, mas a tentativa levanta uma outra questão. Questão que Merval Pereira, em sua coluna em O Globo, aponta. Ele diz que a tentativa da lista é um caso de “guarda da esquina ”. Na reunião ministerial que assinou o AI-5 apenas uma pessoa votou contra o Ato Institucional, o vice-presidente Pedro Aleixo, a justificativa foi “o problema de uma lei assim não é o senhor, nem os que com o senhor governam o país. O problema é o guarda da esquina”. O Secretário Suamy é o guarda da esquina que tenta espelhar as mensagens que saem de Brasília. Um governo que demoniza o conhecimento, a ciência e os fatos valida esse tipo de atitude. Temos que ficar ainda mais alertas para que os freios e contrapesos da nossa frágil democracia continuem funcionando e que possamos continuar chamando-a de Democracia.

Segue a lista de livros que seriam proibidos, estou guardando-a aqui para que ela seja o meu desafio de leitura desse ano. Afinal se esses livros são tão ameaçadores a ponto de serem proibidos são esses mesmos que devemos ler imediatamente.

“O Melhor De Caio Fernando Abreu – Contos e Crônicas” – Caio Fernando Abreu

“Macunaíma, O Herói Sem Nenhum Caráter” – Mário de Andrade

“Poemas Escolhidos” – Ferreira Gullar

“A Volta por Cima” – Carlos Heitor Cony

“Mar de Histórias” – Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (todos os volumes)

“O Irmão que tu me Deste” – Carlos Heitor Cony

“A Menina de cá” – Carlos Nascimento Silva

“Diário de um Fescenino” – Rubem Fonseca

“Bufo & Spallanzani” – Rubem Fonseca

“O Melhor de Rubem Fonseca” – Rubem Fonseca

“Secreções, Excreções e Desatinos” – Rubem Fonseca

“Guia Millôr da história do Brasil” – Ivan Rubino Fernandes

“O Ventre” – Carlos Heitor Cony

“Os Prisioneiros” – Rubem Fonseca

“Agosto” – Rubem Fonseca

“Beijo no Asfalto” – Nelson Rodrigues

“Amálgama” – Rubem Fonseca

“Rosa Vegetal de Sangue” – Carlos Heitor Cony

“O Mistério da Moto de Cristal” – Ana Lee e Carlos Heitor Cony

“Estrangeira” – Sonia Rodrigues

“O Doente Molière” – Rubem Fonseca

“A Coleira do Cão” – Rubem Fonseca

“O Melhor de Nelson Rodrigues” – Nelson Rodrigues

“13 dos Melhores Contos de Amor” – Rosa Amanda Strausz

“Memórias Póstumas de Brás Cubas” – Machado de Assis

“O Castelo” – Franz Kafka

“Os Sertões da Luta” – Euclides da Cunha

“Mil e Uma Noites” – Carlos Heitor Cony

“Contos de Terror de Mistério e de Morte” – Edgar Allan Poe

“Vestido de Noiva” – Graphic Novel 

“O Seminarista” – Rubem Fonseca

“Histórias Curtas” – Rubem Fonseca

“O Ato e o Fato” – Carlos Heitor Cony

“O Harém Das Bananeiras” – Carlos Heitor Cony

“História de Amor” – Rubem Fonseca

“O Buraco na Parede” – Rubem Fonseca

“Feliz Ano Novo” – Rubem Fonseca

“A Vida Como Ela É” – Nelson Rodrigues

“Calibre 22” – Rubem Fonseca

“Mandrake A Bíblia e a Bengala” – Rubem Fonseca

“Lúcia Mccartney” – Rubem Fonseca

“Romance Negro e Outras Histórias” – Rubem Fonseca

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