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Os Porões da Contravenção

Escola de samba e contravenção são dois elementos, muitas vezes, inseparáveis no carnaval carioca, é dessas coisas que, infelizmente, o brasileiro parou de achar errado. O crime desfila todos os anos pela Sapucaí e tudo bem, foi o incomodo com essa promiscuidade nacional e o interesse de conhecer cada vez mais sobre a minha escola do coração, Beija-Flor, que me fez pegar “Os Porões da Contravenção”.

Chico Otávio e Aloy Jupiara focam em três chefes do jogo do bicho no Rio: Capitão Guimarães, Anisío e Castro de Andrade. Em comum os três se utilizaram de escolas de samba para tentar limpar sua imagem e, o foco real do livro, contaram com a conivência e a ajuda direta da linha dura do governo militar para se estabelecer. A primeira parte da tática funciona muito bem até hoje para os dois que ainda estão vivos, Guimarães e Anísio. Ambos circulam calmamente pela Sapucaí, pelos barracões e são vistos mais como mecenas do que como bandidos que são. A idéia é tão enraizada que a Beija-Flor chegou a levantar a proposta de que um enredo sobre Anísio seria uma boa para 2017.

O livro afirma que o jogo do bicho é a verdadeira máfia do Brasil. São organizados e estruturados e mesmo os diversos reveses que enfrentaram ao longo do tempo, como a prisão em 1993 por formação de quadrilha, não os desarticula. Um poder tão grande e tão estabelecido não se obtém por graça divina, se impõe pela força e foi isso que eles fizeram, onde foram buscar a força é que o alvo do livro. A força veio dos porões da ditadura, dos torturadores do DOI e da Casa da Morte de Petrópolis, de policias corruptos da Baixada Fluminense. É aterrador.

A trajetória que mais me chamou a atenção foi a de Anísio por ser uma mistura de política e fora, uma mistura entre a lei do silencio e a influencia. Seria uma dessas historias que daria um bom personagem de House of Cards como exemplo de promiscuidade entre poder e os fora da lei. Castor é contraventor de nascença, a mãe era banqueira do bicho, e Guimarães chegou na base da força.

O retorno do Brasil a democracia e a Anistia deixou muitos esqueletos nos armários, muitos porões fechados e muitas figuras obscuras caminhando por aí incólumes. Esse livro levanta um pouco um desses porões, ainda é pouco, precisamos sempre jogar luz nesse nosso passado tão mal digerido e que afeta tanto o nosso presente.

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