Coluna

Quando a procrastinação é produtiva

 

Procrastinação, segundo o dicionário do Google:
substantivo feminino
ato ou efeito de procrastinar; adiamento, demora, delonga.

Quem nunca?

Apesar de me surpreender com a nossa, minha principalmente, capacidade de adiar tarefas e obrigações, eu me surpreendo muito mais com a minha cara de pau em transformar procrastinação em material bruto. Em outras palavras… eu debochei da minha “enrolação” aguda e resolvi transformá-la em uma história. Deixe-me explicar melhor…

Uma pessoa muito querida, com a melhor das intenções e buscando o aumento da minha produtividade, combinou comigo um relatório semanal em que eu computasse o número de palavras diário, o que, honestamente, é perfeito! Além de me disciplinar a buscar sempre um resultado (porque afinal tenho que prestar contas a alguém e não mais apenas a mim mesma), me obriga a focar e me conscientizar do quanto estou ou não escrevendo por dia. É útil, ainda que o resultado possa me deprimir ou animar, dependendo do meu estado de espírito. A ideia de imediato me pareceu genial e confesso que fiquei mais empolgada para escrever o relatório em si que o que eu devia escrever de fato — no caso, o meu segundo livro.

Eis o que aconteceu:

Todo dia, durante essa primeira semana do relatório, eu arranjei — ou arranjaram pra mim — inúmeras tarefas que me impediram de sentar e escrever — o que não é desculpa, eu sei, já escrevi em situações mais sinistras com o tempo muito mais apertado —, e ao primeiro sinal de tempo livre, normalmente no fim do dia, deitada na cama com o laptop no colo, em vez de escrever um capítulo do livro, eu abria correndo o Word para registrar minha não-produtividade no relatório, mascarando-a de um jeito descontraído, divertido; só falando bobagens. E detalhe: com um sorriso no rosto. Eu devia estar me sentindo mal por não ter conseguido escrever nada e porque não mostraria resultado nenhum, por ter falhado miseravelmente. No entanto, o relatório me empolgava, e a cada novo dia a procrastinação era motivo para eu me divertir comigo mesma. Então, bateu. Caiu a ficha do quanto eu sempre funcionei melhor com a escrita despretensiosa e de como estou sentindo falta disso.

Acho que esse ano, o que já era esperado, caí no limbo do autor. Publiquei o primeiro livro, estou na fase de divulgação e, ao mesmo tempo, já pensando no próximo e no próximo. A pressão é grande e a ideia da obrigação e de me manter na ativa me deixam aflita, como assim acontece com tantos outros autores. Eu já nem tenho mais pele em volta dos dedos para provar essa ansiedade.

O fato de eu poder brincar com o relatório, por ser uma pessoa amiga e não a minha editora ou agente, por exemplo, me ajudou a lembrar como e por que consegui escrever o #Fui, mesmo tendo prazo e pressão externa. Na época, eu não sabia ainda se ia ser publicado, aceito. Agora, existe toda uma nova categoria de pressão que é escrever um segundo que supere o primeiro. E isso, meus amigxs, pode ser um tanto opressor.

Mas a boa notícia é que descobri na procrastinação a salvação. Eu me empolguei tanto com o relatório que ainda que a pessoa que o pediu desista de ler por motivos nobres, afinal, aparentemente, pode parecer que não o estou levando a sério (mas estou! Juro!), vou continuar alimentando e o transformarei em um conto. Viu? A procrastinação que gera produção, isso é lindo!

Moral da história: dá pra transformar o nada em substância.

E tenho certeza de que produzirei melhor agora pensando na escrita despretensiosa. É como sempre funcionou comigo, não sei por que ultimamente me deixei levar pela pressão. Basta! Vivifiquei-me novamente! Estou de volta! Vivificai-vos, vocês também! Garanto que vocês podem tirar algo de útil dos momentos de pura preguiça aguda.

Boa sorte!

#Fui

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