Livros Resenhas

se eu fechar os olhos agora

Com a adaptação pra telinha a caminho, vale a pena revisitar esse que foi o romance de estreia do jornalista Edney Silvestre, originalmente publicado em 2009, e logo de cara ganhador do Prêmio Jabuti.

Pra início de conversa, tenho que confessar uma certa falta de isenção. Tive durante muito tempo o prazer de trabalhar com o Edney, ele como correspondente em Nova York, eu como editor aqui no Rio. Então pra mim os personagens bem construídos, a estrutura narrativa, a complexidade temática, e a visão social afiada não foram surpresas. 

A história começa com dois garotos de doze anos, numa pequena cidade do interior fluminense. Eles descobrem o corpo dilacerado de uma bela jovem, casada com o dentista da cidade. Este logo vira o principal suspeito de um suposto crime passional. Mas os jovens resolvem investigar, e descobrem que a cidade de São Miguel esconde um emaranhado de segredos. Ninguém é o que parece, e todo mundo tem alguma coisa a esconder. Contar muito mais seria estragar as reviravoltas da história, e o maior prazer é justamente acompanhar os meninos à medida em que eles desvendam a trama.

O livro tem elementos noir e também de romance de rito de passagem, já que as descobertas que os meninos fazem acabam se tornando a base pro amadurecimento e a passagem ao mundo dos adultos. Às vezes parece um roteiro pronto pra ser filmado, com a grande ênfase nos diálogos. Isso também torna o livro muito rápido de ler. Eu normalmente gosto de saborear um bom livro por mais tempo, não gosto de ler rápido demais, mas esse foi daqueles que li num fim de semana.

E também vale uma releitura, porque se eu fechar os olhos agora tem vários níveis. Funciona pelo mistério e pela trama, e também pelos personagens. E muito mais do que isso, pelo contexto social do Brasil que ele mostra. É aí que o lado jornalista do autor brilha. Estamos em Abril de 1961. É um Brasil em transformação, de grandes mudanças econômicas e sociais. Mas também de muito preconceito, racismo, machismo, divisões sociais e relações complicadas de poder. Os personagens não sabem que estão à beira do precipício, mas nós sabemos. E isso dá contornos ainda mais dramáticos e sombrios à perda de inocência dos garotos.

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