Coluna

Sobre (não) estar sozinha nesse mundo

Alguém me fez a clássica pergunta no bate-papo do lançamento do #Fui em São Paulo: O que te inspirou a escrever #Fui?

Ainda que eu tenha me esforçado, a resposta completa não caberia no bate-papo, então falei das pessoas, da minha própria experiência de intercâmbio, da vida, do universo e tudo mais, mas sei que não é o suficiente! A resposta para essa pergunta é infinita! É como o tempo… como se responde o tempo?

Bom, vou tentar…

Quando penso na minha infância, adolescência, na minha juventude adulta, as palavras “lobo” e “solitário” me acompanham. Quando reflito sobre minhas histórias favoritas nos tempos de criança “Coração Valente”, “O Último dos Moicanos”, “Dança com Lobos”, “Rei Leão”, “História Sem Fim”, “Labirinto”… percebo o quanto me identifico com personagens solitários. Personagens que precisam abandonar o porto seguro, seja ele o que ou quem for, e trilhar um caminho desconhecido para se encontrar em algum momento desta jornada. Não apenas passar por provações, viver um romance ou um mistério, digo da forma mais introspectiva possível, quando um personagem questiona até o que deveria ser natural pra ele.

Esses personagens sempre vão me chamar mais atenção. É mais forte que eu. E não só nas histórias, nos filmes e nos livros, mas em tudo que vivo. Desde que consigo lembrar tenho essa sensação de que não me encaixo em lugar algum, que não pertenço a este lugar, a este mundo, vivo brincando que sou alienígena (brincando, cof cof, vocês jamais saberão), e às vezes me vejo completamente sozinha. Mas, então, paro e pergunto para amigos e conhecidos, às vezes até desconhecidos, sobre esse sentimento de solidão e até hoje todos a quem perguntei me responderam que sentiam o mesmo. Não sou nenhuma autoridade no assunto mas síndrome do lobo solitário existe ad aeternum, ou pelo menos desde que somos Sapiens. Basicamente, quase todo mundo passa ou passou por isso em algum momento da vida.

Mas agora vem a parte que eu acredito não ser tão comum: autoconsciência. Acho que a maioria de nós não reflete muito sobre a vida, o universo e tudo mais, mas, pior ainda, não reflete sobre os próprios atos e pensamentos. Em parte porque a sociedade opressora dita muito o modo como temos que viver e é “mais fácil” simplesmente aceitar o “tradicional” e o que “funciona pra todos”. E em parte porque temos medo. Medo de ser diferente, medo de quem é diferente, medo de pisar num lugar novo.

Por que alguns dizem que preferem o dia à noite? Por que você se preocupa com o que os outros pensam de você? Você acha trabalhar e amar importante? Por quê? O que é amor pra você? Seu sonho é seu ou de outra pessoa? Você tem medo de se arriscar?

Eu gostava de responder perguntas assim nos meus diários… que mantenho desde os 8. O mais interessante é que as perguntas continuam as mesmas, enquanto as respostas foram se adaptando. A gente muda, a gente aprende, amadurece. E eu sou uma pessoa insuportavelmente mutável e adaptável. Bom que nunca tenho preguiça de voltar ao meu palácio da memória, me questionar e descobrir coisas novas sobre mim mesma. Sou naturalmente curiosa. Isso ajuda. E acho que foi justamente a minha curiosidade que me levou a descobrir que o que eu e esses personagens favoritos da vida temos em comum não é a solidão, apesar de sermos solitários, mas a consciência. O desejo de se encontrar, se entender e viver de forma plena, sem medo, sem rédeas.

E por mais tentador que seja responder “a consciência” quando alguém me pergunta “o que me inspirou a escrever o #Fui ou qualquer outro livro, conto ou história”, vocês podem imaginar o quão estranho seria, não tendo todo esse espaço e tempo dedicado para me explicar, mesmo que um pouquinho.

Tudo isso e muito mais… o que me inspira é eu perceber as mudanças não só dos que estão à minha volta mas aquelas que acontecem dentro de mim. E sempre que eu as questiono aprendo mais e mais. Acho que me conhecer é a sensação mais libertadora que já experimentei. E, apesar de continuar me vendo como uma pessoa solitária, ter consciência disso me faz me sentir um pouco menos sozinha no mundo…

Krol me convidou para ser colunista aqui no Cheiro de Livro e estarei com vocês toda última sexta-feira do mês com meus momentos de terapivivizando. 😉

#Fui

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