Livros

Terror no Espaço

Mês passado falei aqui de um livro que tem tudo a ver com o momento atual de pandemia e distopia. De lá pra cá a coisa só piorou, e como jornalista, faz quatro meses que não escrevo sobre outra coisa senão a pandemia. Então peço licença pra um pouquinho de escapismo inocente, entretenimento puro. Bota um Sisters of Mercy pra tocar, que vamos mergulhar no mundo sombrio de Gideon the Ninth.

Uma das decepções com o cancelamento da minha viagem pra próxima Convenção Mundial de Ficção Científica na Nova Zelândia no fim de Julho foi perder a chance de conhecer a escritora Tamsyn Muir. Ela tem tudo pra se consagrar ganhando em casa o Prêmio Hugo, e logo pelo romance de estreia.

Estamos num império galático governado por um imperador imortal (pensem no Palpatine de A Ascensão Skywalker), onde nove famílias nobres disputam o poder. Todos são necromantes – o tenebroso ramo da magia que lida com os mortos. Os herdeiros dessas nove famílias são convocados pra uma espécie de prova em que o vencedor se tornará o braço direito do imperador. Gideon não é candidata – ela é arrastada contra a vontade, como guarda-costas de Harrow, a herdeira da Nona Casa. Esses nove herdeiros são levados a desvendar os mistérios de um castelo decrépito, onde os serviçais são esqueletos, e não demora muito os rivais começam a morrer um por um, dos modos mais macabros.

A meiga Tamsyn Muir. Parece alguém que escreve sobre necromantes espaciais?

Gideon não é uma heroína muito simpática. Tem problemas de atitude e um relacionamento de amor e ódio (muito mais ódio) com a herdeira a quem deve servir. Que por sua vez, mantém os pais num estado de mortos-vivos, pra que ninguém saiba que já passaram desta pra pior há muito tempo. Mas são o ar blasé e, a rebeldia e uma certa arrogância que a tornam tão interessante.

Apesar do ambiente de império espacial, o clima é muito mais de terror gótico. A magia dos necromantes pode até ser vista como uma ciência avançadíssima, mas a autora não está preocupada em explicar como funciona. É um mistério num castelo assombrado, com intrigas, traições, experimentos proibidos, muitos ossos e sangue jorrando. Tem momentos em que o climão e os diálogos são tão lúgubres que beira a sátira, mas com certeza é proposital: dá pra imaginar a autora sorrindo enquanto escrevia. Pura diversão macabra.

Então tá, vamos deixar a diversão de lado e voltar ao mundo real. Pelo menos até Agosto, quando sai o próximo volume.

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