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Tintim: um adolescente de 90 anos

Há 90 anos o mundo começava a conhecer o repórter Tintim e seu criador Hergé

Por Rodolpho Sauret

Em 10 de janeiro de 1929, o repórter investigativo Tintim estreava em um suplemento semanal voltado para jovens leitores, chamado Le petit vingtième. Começava sua carreira em preto e branco, com traços ainda pouco elaborados e – pelos cavanhaques de Lênin! – como um instrumento de propaganda anticomunista.

Na entrevista agora imaginada, o Sr. Tintim, de rosto adolescente e com um tufo de cabelos brancos no alto da testa, diz que era tão ingênuo quanto o primeiro roteiro de seu criador. E assume a vergonha de ter contado aos seus primeiros leitores algumas pequenas mentiras, como a fábrica de fachada cujo único operário produzia apenas fumaça.

George Remi, seu pai, era então um jovem belga de 21 anos, responsável pela criação e direção do suplemento que seria publicado no jornal Le vingtième siècle. Desde a época de estudante, assinava como Hergé, pronúncia francesa das iniciais invertidas de seu nome (RG). Há exatos 90 anos, desenhava o intrépido repórter pela primeira vez, desde sempre acompanhado por seu fox-terrier Milou.

O Sr. Tintim interrompe para dizer que é do seu companheiro que sente mais falta. E Milou, aliás, é corruptela de Marie Louise, nome daquela que teria sido o primeiro amor de Hergé. Em seguida, reconhece que a história passada na União Soviética é sem dúvida, a mais infantil de todas, cheia de cenas exageradas, envolvendo muitos acidentes, brigas e explosões.

Tintim no país dos sovietes foi publicado em forma de álbum em 1930, curiosamente com 2 páginas faltando. A reedição só ocorreu em 1973, quando as aventuras do jovem repórter já eram um sucesso, e gerações de fãs se acumulavam. Nessa primeira história, porém, ainda não aparecem personagens que depois se tornaram recorrentes como o Capitão Haddock, vilões como o Rastapopoulos e a dupla de policiais Dupont e Dupond.

Em toda a série de álbuns, faltam personagens femininos. Bianca Castafiore, uma cantora de ópera, talvez seja a única dentre os mais relevantes. Em entrevista, Hergé não se dizia à vontade para fazer desenhos de mulheres. É fato que Tintim nasceu dentro de um ambiente puritano, muito influenciado pela igreja católica, e que nunca se teve notícias de suas namoradas.

O velho repórter foge da pergunta que sempre ficou no ar. Por um lado, desconversa. Por outro, em obra da imaginação, ele surpreende: afirma que, nos dias de hoje, fosse ele um quadrinista, revisitaria suas aventuras com uma adolescente apaixonada por futebol, torcedora dos diabos vermelhos (a seleção belga) e fã do Lukaku.

Alguns meses depois da Copa do Mundo de 2018, não seriam poucas as novidades que ela traria de Moscou para contar ao seu avô. Uma Rússia bem diferente daquela que Tintim conheceu.

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