Livros Resenhas

2001: Uma Odisseia no Espaço

Muito já foi escrito sobre 2001 desde o lançamento, há 50 anos. O livro de Michael Benson (Todavia, trad. Claudio Carina e Álvaro Hattnher) não é o primeiro a contar a história da produção do filme, mas é sem dúvida o mais completo. Logo na introdução, o jornalista fala de seu relacionamento pessoal com o filme. Chegou a entrevistar Arthur C. Clarke, falecido em 2008. Não teve a mesma sorte com Kubrick (morto em 1999), mas falou com a viúva Christiane e com a filha Vivian.

O que torna esse livro especialmente relevante é o retrato sem enfeites da colaboração desses dois gênios, ambos perfeccionistas, e que muitas vezes enlouqueciam um ao outro e aos colaboradores. O distanciamento no tempo permite que Benson faça esse relato de uma maneira mais aberta, sem se preocupar tanto com ferir sensibilidades. Não que haja grandes fofocas, brigas, etc, não é isso. É um retrato mais redondo, mais humano dos dois. Por exemplo, outros livros relatam as desavenças dos dois quanto ao lançamento do livro, que Kubrick vivia adiando, pra desespero de Clarke. O que os outros não contam é que Clarke estava endividado, bancando despesas do parceiro, e precisava do adiantamento. E que enquanto o livro não saía, Kubrick lhe emprestou o que precisava. Mostra também um diretor que por trás da imagem de gênio fechado escondia uma incrível fragilidade, com dúvidas e incertezas como as de qualquer ser humano.

O autor mistura bem a pesquisa de outras fontes (livros, entrevistas, etc) com os depoimentos colhidos por ele, de modo que o livro não se resume a uma colcha de retalhos de material já publicado. E deixa claro quando há versões conflitantes sobre determinados episódios.

Benson cumpre bem a obrigação de explicar as inovações desenvolvidas por Kubrick e cia em 2001. Mas acima de tudo o foco está no processo criativo por trás dessas inovações. Como o cineasta e a equipe testaram e descartaram ideias até chegar ao que queriam, e como um diretor com fama de perfeccionista, difícil, era capaz de reconhecer e premiar as ideias e iniciativas dos mais desconhecidos membros da equipe.

O diretor perfeccionista que cuidava de cada enquadramento

Vi 2001 pela primeira vez há mais de 40 anos, já revi dúzias de vezes. Mas graças a Benson vou ver agora um filme novo, tantos são os detalhes que nunca tinha reparado. Por exemplo, Kubrick dá um sinal muito sutil de que o computador está se comportando mal, logo no começo da sequência na nave Discovery. Hal joga xadrez e dá xeque-mate num dos astronautas. Só que o computador faz uma jogada irregular – ele estava roubando, enganando o astronauta. Um detalhe que passa despercebido (mas que depois de ler fui achar em sites sobre xadrez), e que evidencia ainda mais a atenção de Kubrick aos detalhes.

2001, o filme, foi um marco na história do cinema. Uma Odisseia no Espaço, o livro faz jus ao filme: é leitura obrigatória pra cinéfilos, fãs de ficção científica, ou simplesmente pra quem gosta de uma boa história com personagens marcantes.

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