Jean Baudrillard, em um de seus livros cujo título não me recordo, escreve sobre a liquidação do planeta. Tudo esta sendo vendido, todos os tipos de mercadoria podem ser encontradas: das frutas mais simples às exóticas experiências da contemporaneidade.
Tudo esta em liquidação: é necessário, para a estratégia de funcionamento do regime capitalista ocidental, que tudo seja consumível, perecível e substituível. No Rio de Janeiro, por exemplo, uma das coisas que mais vejo, andando pela cidade, são cartazes nas janelas de apartamentos “vende-se”; vidros empoeirados e persianas quebradas guardam espaços largados, vazios.
Na última semana, quem foi aos mercados testemunhou os espaços destinados aos legumes, verduras e frutas esvaziados; as coisas eram substituídas por simulacros – sucos industrializados, pacotes de batatas fritas tipo Ruffles e outras marcas, garrafas e mais garrafas de água, macarrão e molho de tomate em vidros.
Um brevíssimo choque percorreu o confuso imaginário massacrado por discursos alarmistas das grandes mídias (insira aqui também os enfadonhos e mal intencionados áudios de whatsapp): comprem tudo que puderem, não há previsão de abastecimento dos mercados.
Uma amiga disse para outra amiga que o gerente de um mercado, em Copacabana, disse que vendeu mais do que na véspera de Natal ou Ano-Novo.
É como se o mundo estivesse sensível demais: as camadas de sensibilidade superexcitadas, exauridas, respondem sem crítica e sem tempo às mensagens.
A publicidade não serve apenas para a divulgação, propagação e manutenção de um estado de alerta constante, que impede e cancela as dimensões críticas e sensuais do cotidiano; a publicidade pode funcionar, também, como uma ferramenta de informação e produção de outras sensibilidades. Capturada por um sistema em colapso, no entanto, ela parece acelerar o Fim do Mundo.
Desejar o mais novo, o melhor, a eterna novidade; comprar antes que acabe; jogar o outro fora ou guardar na gaveta, no armário – acumular, esquentar a indústria e a economia; descartar.
O colapso dos afetos que balizaram nossas experiências é pautado pela publicidade. Euforia, corpos, marcas, cidades que se tornam shoppings e produtos, branding – como resolver todos os problemas do mundo e todos os problemas do mundo são problemas de marketing…
Enquanto o Titanic afunda, os publicitários são os músicos que tocam ainda uma última música, um último jingle anunciando a promoção das últimas louças; seus fantasmas não terão tempo para descansar: serão rapidamente convocados para o Novo Mundo, o mundo pós-naufrágio, e emprestarão forma ao desastre.
Dizem, agora, que para salvar o planeta – essa lógica de reversão do tempo – deveríamos consumir menos carne de animais de fazendas e menos derivados (queijo, manteiga…), mas a pizza de mozzarella da Domino’s está R$ 19,90, abriu mais um McDonalds ou Burger King sei lá onde e um Starkbucks perto da antiga livraria que virou uma rede…
No Instagram ou no Feicitruque (que pertecem ao mesmo dono…), os breves vídeos de propaganda não se limitam mais aos 30 segundos da televisão e rodam eternamente, reiniciando imediatamente após o fim, em looping.
A imagem deseja engolir o consumir; um mundo de consumo 24/7 até o fim.
Ou depois.