“Assassinato no Expresso do Oriente” é um dos mais conhecidos livros de Agatha Christie e isso é dizer muito, não são poucos os escritos da escritora inglesa que são considerados clássicos e que encontraram seu caminho até o cinema. Uma viagem em um dos mais icônicos trens do mundo, um assassinato, todos os passageiros são suspeitos e o detetive Hercule Poirot. Uma mistura perfeita para um grande livro e se você inclui aí Sidney Lumet dirigindo e um elenco estrelar cria-se um filme de respeito.
Assisti a adaptação de “Assassinato no Expresso do Oriente” duas vezes. Uma no meu período de rata de locadora (tenho plena consciência de que isso revela minha idade) e uma agora para poder escrever aqui como filme mais fresquinho na minha cabeça. Antes de rever o que me lembrava era de que o filme contava bem a história do livro e que Lauren Bacall roubava a cena mesmo que o Oscar de melhor atriz coadjuvante tenha sido dado a maravilhosa Ingrid Bergman.
Assistindo com mais de trinta anos de distancia do lançamento vejo que o filme não envelheceu lá muito bem e não estou falando do ritmo, filme mais antigos tendem a ter um tempo mais lento mesmo, mas do todo. O Hercule Poirot de Albert Finney é demais caricato e chega a incomodar, me lembrou por demais o Yunioshi de Mickey Rooney em “Bonequinha de Luxo”, ou seja, um americano interpretando de forma caricata um personagem de outra nacionalidade. Fica ainda mais gritante porque Finney contracena com uma Bacall inspirada como uma viúva falastrona e uma Bergman como uma missionária traumatizada. As duas roubam as cenas, com destaque para Bacall. Além delas tem ainda um ponta do Anthony Perkins, um Sean Connery e uma Vanessa Redgrave super jovens e uma Jaqueline Bisset que está lá mais para ser um ser etéreo do que para participar das cenas. É um elenco de impressionar.
Quase toda a ação acontece dentro do trem parado no meio do nada por causa de uma nevasca. A escassez de cenário não é muito bem aproveitada e olha que Sidney Lumet já fez isso com maestria no ótimo “12 homens e uma sentença”. Falta o clima de “estamos todos presos aqui e há um assassino entre nós”, falta tensão entre os passageiros e o detetive, entre o detetive e o caso e entre os passageiros. Tudo transcorre com muito mais calma e tranquilidade do que se poderia esperar quando se tem um assassinato à bordo.
Adoro clássicos do cinema e me diverti nas duas vezes em que assisti ao filme, mas tenho consciencia de que mesmo contando com duas grandes atuações esse não é daqueles filmes que resistiram bem a passagem do tempo.