Filme Saiu das páginas

Caminhos da Floresta

Stephen Sondheim é uma lenda dos musicais; pense que ele é o letrista responsável por clássicos como West Side Story, Company e Gypsy, por isso quando li que a Disney ia adaptar para o cinema um dos seus musicais mais divertidos, Into the Woods, eu vibrei. O resultado da adaptação, contudo, ficou aquém do esperado.

Sondheim e James Lapine pegaram quatro contos de fada (Cinderela, João e o Pé de Feijão, Rapunzel e Chapeuzinho Vermelho) misturaram tudo e montaram um musical sarcástico sobre o “viveram felizes para sempre”. A adaptação para o cinema dirigida por Rob Marshall (Chicago e Nine) perdeu parte do humor ácido do original e sofre por ter uma estrutura datada.

Os musicias foram os blockbusters da década de 1950 em Hollywood; com o tempo foram desaparecendo e fazendo pouquíssimo sucesso até que Moulin Rouge (2001) mudou um pouco o cenário. Baz Luhrmann pegou um romance e salpicou os diálogos com música pop, músicas que funcionavam como um diálogo. No ano seguinte Rob Marshall pegou um clássico da Broadway, Chicago, e transformou em um ganhador do Oscar de melhor filme… como ele fez isso? Usou seu status de coreógrafo consagrado para disfarçar a cantoria a cada cena com maravilhosos números de dança, a sequencia de “Cell Block Tango” está aí para comprovar o que digo. É essa modernização de linguagem que falta em Caminhos da Floresta. No filme, a cada cinco minutos, algum personagem para e começar a cantar seus sentimentos, impedindo a história de seguir adiante. Isso deixa o público impaciente. Mesmo que eu adore musicais, a narrativa lenta com tanta cantoria atrapalha aqui.

Um dos melhores momentos de Caminhos da Floresta no teatro é o segundo ato, quando o “felizes para sempre” começa a desandar. Nesse momento, o destaque é a história depressiva da Rapunzel; ela sofre de estresse pós-traumático depois de passar anos trancada em uma torre, e a guinada dos príncipes que se apaixonam por duas mulheres que dormem (Branca de Neve e Bela Adormecida) é cantada em uma reprise hilária de “Agony”. Ambas as situações são retiradas do filme, o destino de Rapunzel ficou fofo, saindo completamente da lógica da história, e não há menção às outras duas princesas, uma pena porque as piadas eram ótimas.

Como trunfo, o filme tem Meryl Streep (Kramer vs Kramer, Escolha de Sofia e Dama de Ferro) como a bruxa; a super atriz, como sempre, rouba a cena. Tenho que confessar que mesmo Streep sendo quem é, fiquei preocupada com a escalação. A bruxa no teatro foi escrita para Bernardette Peters, que tem uma das vozes mais consagradas da Broadway e a interpretação dela de “Children Will Listen”, minha preferida da peça, é incrível. Meryl dá conta do recado maravilhosamente bem e é, junto com o lindo visual do filme, o melhor que se vê na tela. Já a minha música preferida ficou escondida na sequencia final do filme, infelizmente. O restante do elenco estelar é só coadjuvante de Streep, incluindo os protagonistas; entre eles, as que mais se destacam são Anna Kendrick e Emily Blunt, Cinderela e a mulher do padeiro, respectivamente.

A Disney tirou boa parte do sarcasmo de Caminhos da Floresta para deixá-lo mais família e esqueceu de atualizá-lo para que pudesse ser apreciado pelas plateias de hoje. O resultado é um filme apenas bom, baseado em um material ótimo. Rob Marshall, assim como aconteceu em Nine, não conseguiu transportar para as telas a magia do mundo criado por Sondheim e Lapine, e olha que estes dois últimos colaboraram muito na realização do filme. Outra das minhas tristezas é que a música “She’ll be back”, composta especialmente para Streep, ficou na sala de edição. Caminhos da Floresta acabou ficando um musical velho com aspecto de novo e só.

Similar Posts

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *