“Canção de Ninar” (tradução de Sandra M. Stroparo) é desses livros que várias amigas me recomendaram e que, ao mesmo tempo, eu não tinha a menor ideia sobre o que se tratava. O meu desconhecimento da obra de Leïla Slimani só aumentou o choque de ler as primeiras páginas. Uma mãe chegando em casa do trabalho e encontrando seus dois filhos pequenos mortos pela babá. Não tinha ideia de que era esse tipo de tragedia que me aguardava e isso só contribuiu para que eu fosse incapaz de colocar o livro de lado até terminar.
Slimani se inspirou em um crime real ocorrido em Nova York (caso Krim), o transportou para uma família de classe média em Paris e criou uma narrativa sombria e viciante. Myriam e Paul tem dois filhos pequenos, Mila e Adam, ela deixou a carreira para cuidar em tempo integral dos filhos até o momento em que não suporta mais a vida de dona-de-casa. Paul não é lá muito fã da ideia da mulher voltar a trabalhar mesmo que ele não se esforce nem um pouco em colaborar com as atividades domesticas e a educação dos filhos. É nesse contexto, Myriam voltando a trabalhar, que eles contratam Louise, a babá perfeita.
Com o cenário montado Slimani vai guiando o leitor pela vida dos personagens, vai mostrando aos poucos a dinâmica da família com a presença de Louise e, principalmente, como Louise se tornou Louise. Uma vida sem laços afetivos efetivos, nem como marido, nem com a filha, sem amigos, um universo tão solitário que ela não sabe o que fazer quando tem folga. Sabendo o desfecho desde o inicio é impossível não procurar momentos de loucura ou de maldade de Louise com as crianças e o que torna tudo mais sombrio é exatamente ela ser adorada por elas, por ser um ótima contadora de histórias, por cuidar bem delas, por deixa-las felizes.
A tensão do casal com Louise vai se agravando aos poucos e é repleta de uma culpa do casal de não querer insulta-la e ao mesmo tempo estabelecer os limites do quanto ela pode interferir na rotina da família. Culpa é também o que apenas Myriam sente ao deixar os filhos em casa para trabalhar, Paul vive a vida como se não tivesse filhos ou família, segue sua rotina de trabalho sem se preocupar e ao mesmo tempo quando viaja com os filhos está presente para eles, é um bom pai de final de semana e um ótimo exemplo de como os papeis de homens e mulheres na educação dos filhos está muito longe de ser igualitária.
O livro caminha para o desfecho que lemos nas primeiras páginas e mesmo assim é impossível coloca-lo de lado. É uma experiência sombria, sem dúvida, e ao mesmo tempo me fez querer ler ainda mais a obra de Leïla Slimani.
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