Livros Resenhas

Cemitérios de Dragões

Tecnologia, fantasia e nostalgia no novo livro de Raphael Draccon

Revistas e sites apontam Raphael Draccon como referência na literatura jovem fantástica brasileira. Palmas para ele por criar vários livros em mundos diferentes, sejam eles paralelos ao nosso ou não. Depois da trilogia “Dragões de Éter” e de “Fios de Prata”, Draccon lança “Cemitérios de Dragões”, o primeiro livro de mais uma trilogia chamada “Legado Ranger”. Estranhou? No início, eu também.

Antes de tudo, é preciso deixar claro um fato: eu não curto muito fantasia. Eu sei que é estranho, já que sou mega fã de Harry Potter, mas só. Não sou adepta dos elfos e fadas e só acho dragões incríveis porque são dragões (tipo, isso é meio básico. Não tem como não curtir dragões). Adoro fantasia em filmes e seriados de TV e acho, como gênero literário, um grande desafio para os autores que escrevem, mas não sou o público-alvo dessa galera. Por causa do blog, da minha coluna na rádio Roquette Pinto e do Clube do Livro Saraiva, volta e meia eu leio algo de fantasia. Até porque acho que devemos sair da nossa zona de conforto literário de vez em quando. Por tudo isso e por ter sido convidada pelo próprio Draccon para mediar o lançamento do livro no Rio de Janeiro, eu li “Cemitérios de Dragões”.

Primeiro, a capa é incrível! Dito isso, mergulhei em mais um mundo mágico criado por Raphael Draccon. Fácil do leitor se identificar com a narrativa, pois o livro é narrado em terceira pessoa e conta a história de Derek, Ashanti, Daniel, Amber e Romain, cinco pessoas que acordaram em um mundo muito diferente do nosso, em diferentes circunstâncias e precisam entender o que está acontecendo para então encontrar o seu lugar no mundo, voltando ou não para casa. E eles estão um em cada canto, se encontrando somente ao longo do livro. Complicado de escrever sem o leitor se perder, mas o autor faz um bom trabalho.

O mundo criado por Draccon e paralelo ao nosso é repleto de seres horripilantes, de demônios cuja presença é descrita de tal forma que se torna impossível de o leitor não fazer uma careta ao ler. Criaturas das sombras com um plano nefasto de tomar o poder em várias dimensões ao trazer de volta à vida seres abissais, dragões. E cinco jovens, cada um com sua habilidade, sua personalidade e jornada, que se encontram no meio dessa situação.

Ao ler “Cemitérios de Dragões”, lembrei automaticamente de “Caverna dos Dragões” até porque só não lembraria se não fosse do meu tempo. E acreditem, é sim. Mas mesmo que Draccon tenha utilizado essa menção honrosa ao clássico desenho animado, ele também criou uma história única e original. O mundo estranho de seres coaxantes e anões escravizados também conta com metal vivo, com uma floresta de armadura, com tecnologia ao mesmo tempo antiga e nunca antes vista. E isso pode parecer estranho para os fãs de fantasia, mas achei muito diferente, coerente e interessante.

Mas sabe o que move esta leitora? Os personagens. Se o mundo é incrivelmente bem criado, mas os personagens são descritos como mero habitantes, o livro vai voltar para a prateleira. O que não é o caso de “Cemitérios de Dragões”. Draccon explora não somente a história de cada um de seus cinco personagens, mas a química entre eles. Derek é um soldado do exército americano extremamente correto; Amber é uma garçonete irlandesa muito cabeça dura (em vários sentidos) e decidida que tem uma jornada bem complicada; Daniel é um hacker brasileiro com ascendência japonesa e sua interação com o francês Romain é sensacional, pois o segundo é atacado e ambos protagonizam ótimos diálogos repletos de referências pop. Já Ashanti, pra mim, é a melhor personagem de todos. Nativa de Ruanda e com um passado pesado, a jovem é correta, honrada e uma verdadeira líder. Nenhum personagem é fraco ou forte, mas todos se completam de forma equilibrada. Ponto para Draccon.

Mas é claro que o livro também apresenta seus obstáculos. Não sei se é exatamente por eu não curtir fantasia e por isso não ler tantos livros do gênero, que acho a narrativa de mundos e descrições de seres cansativa. Claro que descrever detalhes de um mundo que não é o nosso é essencial para que o leitor entenda o que está acontecendo, possa visualizar o seu cenário. Mas achei momentos quase que biológicos ou tecnológicos demais e senti a leitura arrastar um pouco. Acho que o segundo livro, tendo o mundo já estabelecido, essa sensação não será mais tão presente.

Para quem torceu o nariz quando viu Draccon misturar personagens e tecnologia do estilo “Power Ranger” com dragões e fantasia, não tenha medo de ler “Cemitérios de Dragões”. Também achei uma escolha meio bizarra, mas do jeito que acontece no livro, gostei bastante e achei coerente, como comentei anteriormente. E conseguir coerência em uma situação inusitada dessas não é fácil.

Em uma edição do Clube do Livro Saraiva, comentei que achava a interação dos personagens coadjuvantes de “Fios de Prata” excelente e “Cemitérios de Dragões” traz ainda mais disso, agora com os protagonistas. Deixo meu desafio: acho que Raphael Draccon – por mais que seja referência em literatura fantástica – arrebentaria também se escrevesse algo fora desse gênero, tendo os personagens, as interações humanas, como foco.

Em suma, “Cemitérios de Dragões” é um prato cheio para quem curte fantasia. Para quem não gosta do gênero, mas tem vontade de ler, vale a leitura pelos personagens.

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