Escrevo essa coluna para compartilhar não somente uma ideia, mas uma experiência linda que tive no final da edição de março do Clube do Livro, na Saraiva do Rio Sul. O evento mensal tem quase nove anos de estrada e, mesmo com todo esse tempo, sempre me surpreendo com a generosidade dos leitores. Em março, conheci a Dona Conceição, uma senhora que foi à livraria para comprar um livro de presente, viu as mais de 70 pessoas reunidas para o Clube do Livro e resolveu sentar para participar. O tema foi “Mulher presente na literatura: como leitora, autora e personagem”.
Depois de quase três horas de muito papo, debate e livros sorteados – Dona Conceição até ganhou um! “A pérola que rompeu a concha” -, a leitora veio conversar comigo. Chegou primeiro para pedir o papel do desconto (todo participante do Clube ganha um cupom de 20% de desconto para compras de livros e itens de papelaria no dia do evento). Depois ficou de olho nos marcadores. Ela escolheu alguns mais diferenciados e eu fiquei observando, achando curioso uma senhora idosa se interessar pelos marcadores. Então veio a primeira lição: Dona Conceição coleciona e tem, como ela mesma diz, “uma mala de marcadores em casa”. Como tem muito, resolveu fazer uma seleção e só guarda os mais diferentes, como foi o caso do marcador em formato de máquina fotográfica de “A mulher na janela”.
Aí veio a verdadeira lição de Dona Conceição.
“Eu ando com uns cinco marcadores na bolsa, todos os dias. Como pego muito ônibus, sempre tem gente lendo. Mas tem gente que marca o livro dobrando a página, ou usa a contracapa para marcar e dobra o livro todo”, contou Dona Conceição, fazendo aquela cara de desgosto quando explica a monstruosidade que leitores cometem na falta de um marcador. E finaliza “Quando eu vejo isso, tiro um dos marcadores da bolsa e ofereço. Melhor coisa para não machucar livros e conhecer outros”.
Fiquei ali, olhando o rosto marcado pela experiência, os olhos atentos de Dona Conceição e as mãos já agarradas a livros escolhidos para usar seu desconto.
Mais uma lição.
“Eu quis comentar, mas fiquei sem graça. Estou lendo livros clássicos de novo, alguns que comprei e nunca tinha lido. Mas também já li Harry Potter, mas isso faz muito tempo. Adorei e adoro ainda”, contou sorrindo.
Dona Conceição, com seu jeitinho meigo, veio se chegando e já entrou para a família do Clube. Passou a tarde conosco, compartilhou sua experiência e generosidade de leitora e saiu feliz, com um livro ganhado e um comprado (“O conto da aia”) para presentear outra pessoa.
Ficaram comigo a felicidade de ter conhecido Dona Conceição, que espero rever em outras oportunidades literárias, e a generosidade dela. Agora passei a andar com mais marcadores na bolsa para “salvar” livros. Topa fazer o mesmo?