I
no fundo do poço há
um outro poço
com outras águas
mais fundas, fétidas
mais podres,
águas paradas
nos campos secos
cortados por valas oleosas
moinhos enferrujados e
esqueletos
assim os tubarões não alcançam
nossos corpos exaustos
refletidos por todos os lados
as telas rachadas
as vísceras
expostas
no cinema exposto
sob um sol
descido
um filme afunda através dos rasgos
e furos e cicatrizes –
quase não há mais
pele sobre a qual
o navio desponta
como um prédio
avançamos através de ossos e pó –
tudo sangra esse óleo
pegajoso
nossas mãos e olhos
cruzados
três soldados enforcados
balançam
sobre três terríveis e graciosos pássaros
que gritam e devoram
os olhos, os intestinos, os fígados –
não há um médico,
um telefone.
a terra devora mais um pedaço
sentamos em um imenso crânio,
admiro a rachadura em ziguezague,
“foi vovó quem fez
com um machado”
os tubarões brancos avançam famintos
“já fui como eles”
lá embaixo
onde deveria haver
uma boca
a terra geme e se retorce
II
no fundo
há outro poço
com outras águas
mais profundas,
paradas.
nos campos secos
rasgadas por valas oleosas
moinhos enferrujados
y esqueleto
assim os tubarões não
alcançam
nossos corpos exaustos
fragmentados por todas as telas
quebradas
as cybervísceras expostas faíscam
vagalumes elétricos
que morrem
no cinema aberto sob um deus crepuscular
um filme também
afunda
através dos rasgos y furos y cicatrizes,
oh, my!
quase não há
mais pele sobre a qual
costurar
o navio desponta como um prédio
no horizonte tardio
avançamos através
de ossos y pó
tudo sangra esse óleo pegajoso
nossas mães y pais crucificados
três soldados enforcados balançam
sobre três terríveis pássaros que gritam
y devoram os olhos, os intestinos, os fígados –
não há uma porra de um médico,
um telefone.
a terra devora
mais um pedaço
sentamos num imenso crânio, admiro
a rachadura em ziguezague,
“foi
vovó quem fez
com um machado de ponta
dupla”
os tubarões brancos avançam
“já fui como eles”
lá embaixo
onde deveria haver uma boca
a terra geme y se contorce
III
fundo
há um outro poço
paradas
nos campos secos
rachados por valas oleosas
tubarões não
exaustos
refletidos por todos os lados
quebradas
no cinema
furos e cicatrizes, oh my!
quase não há mais pele
esse óleo
pegajoso
olhos cruzados
três soldados enforcados balançam
sobre terríveis pássaros que y
os olhos, os fígados –
não há um médico,
devora mais um pedaço
sentamos em um imenso crânio, admiro
a rachadura em ziguezague,
“foi vovó quem fez
machado”
brancos avançam,
“já como eles”
onde deveria
a terra contorce.
IV
no fundo
há um outro poço
com outras águas
moinhos enferrujados
há palavras
que esse monstro não
pronuncia
desterro e a secura dessa língua
escrevo com a boca aberta
aguardando um outro filho teu
apenas para mais um assassinato
águas paradas
eu não gostaria de te encontrar no escuro nem
vou lamber tuas feridas nesse quarto imundo
cópia barata dos anos 60 e o urso empalhado ri
do meio da sala
como se isso não fosse terminar nunca
os tubarões brancos avançam
jogo os ganchos nessa tempestade de areia
é mais fácil ancorar