Coluna

Livros: Minha louca obsessão

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Sobre a minha enorme dificuldade de desapegar dos meus livros.

Sabe aquela história de que livros foram feitos para ser livres? Que eles tem que estar em movimento? Que é legal depois de ler passar a história adiante? Acho tudo muito bonito, concordo com essa ideia, de verdade. A gente até tem um projeto aqui no Cheiro de Livro chamado “Doando Histórias”, em que todos os anos juntamos livros de todos da redação para doar para uma biblioteca municipal. Mas na real, na real, eu tenho uma IMENSA dificuldade de desapegar dos meus livros.

Sou daquelas que AMA livros físicos, e que AMA promoções de livros. Logo, a acumulação de edições é inevitável. Atualmente eu tenho uma cristaleira lotada deles, duas estantes que ocupam toda a parede lotada deles, mais três estantes acima da cama lotada deles, e até alguns que ainda estão no plástico dentro de caixas de papelão. SOCORRO. Eu juro que estou trabalhando meu psicológico para ser mais desapegada, porque eu acredito que os livros teriam muito mais utilidade nas mãos de um outro leitor, do que empoeirando na estante. No entanto, na minha cabecinha, os livros acabam divididos da seguinte forma:

  • Li, não gostei. – Esses são os primeiros dos quais me desfaço. Dou pra qualquer um, pra quem quiser, pra fazer o que que bem entender.
  • Não li – Esses não posso doar,  por razões óbvias, né? A questão é que a lista dos não lidos cresce numa velocidade…
  • Li, gostei, mas sei que não lerei novamente – Aqui já começa a dó de doar. Eu gostei tanto dele… Mas sei que não vou ler… Mas gostaria que caísse nas mãos de alguém que cuidasse bem… Então esses eu dou, mas quase sempre para pessoas conhecidas, que sei que vão curtir.
  • Li, gostei, não lerei novamente, mas tem continuação – Eu tenho um pouco de TOC (bastante previsível, né?), então se eu li um livro que gostei, e sei que ele faz parte de uma série, eu gosto de ficar com ele, mesmo que saiba que não vou voltar a ler. É algo como ele precisa estar lá quando o próximo volume chegar, sabe? Em geral esses eu doo só quando termino de ler a coleção inteira.
  • Li e fiquei fã! – Infelizmente ainda não cheguei no nível de evolução de doar esses. Aconteceu com Jogos Vorazes, Saramago, Stephen King, Tolkien, e tantos outros. Na maioria dos casos eu sei que provavelmente não vou ficar relendo, mas é que eles moram no meu coração com tanta intensidade que gosto de tê-los ali, por perto. Esses eu empresto (pras pessoas em que confio, claro!), mas doar, não rola mesmo.
  • Livros Acadêmicos – Tão empoeirando na minha estante, custaram um absurdo de caro, mas não consigo doar porque fico sempre com a impressão de que vou ter que consultá-los por algum motivo (falei um pouco aqui sobre minha saga acadêmica). Não empresto para quase ninguém, porque quase nunca voltam (incrível como isso acontece muito mais com os acadêmicos do que com os literários). Um dia talvez eu supere isso e consiga doar pra uma biblioteca ou algum estudante gente boa, por enquanto, me sinto amarrada a eles mesmo já tendo terminado o mestrado.
  • Edições Especiais – DOAR? CÊ FUMOU DROGA? EMPRESTAR? MIGA, CÊ TÁ LOKA? Convenhamos, quando a gente compra aquele livro super especial-ilustrado-capa dura-neon-maravilhoso único não é pra ele circular nem na nossa mochila, né? É pra ADMIRAR, coleguinhas, é item de colecionador (eu sei, eu sou doente). Então esses eu não dou, não empresto, não nada. Se você quiser pode ver aqui em casa, sentadinho. Eu coloco ele no seu colo e você o folheia sob as minhas vistas. Nessa categoria incluo também os que são especiais por apelo psicológico, aquele primeiro livro ganhado na infância, aquele autografado que demorou 20h de fila pra conseguir, o livrinho de poesias que era da sua avó, aquela biografia que foi presente dos amigos da faculdade. Por exemplo, eu tenho uma mesma série que se encaixa nessa categoria de duas formas: Harry Potter. Tenho as edições brasileiras já gastas pelo tempo e por ler milhões de vezes, que ganhei uma a uma conforme foram sendo lançadas, quando eu era criança, e que são tão, mas TÃO significativas pra mim. E também tenho uma outra versão (sim, eu tenho DUAS coleções dos mesmos livros… MIM AJUDEM) da série HP em inglês, com capa dura, luva ilustrada, letras douradas, caixa especial, tudo que tem direito. “Mas Iane, você tem dois de cada! Me empresta um!”

NÃO.

Eu me sinto culpada? Sim. Eu sei que preciso melhorar? Sim. Eu consigo me desapegar dos meus livros sem sofrimento? Não. A verdade é que eu amo tanto estar na companhia de livros de papel que eu não consigo me imaginar sem eles, mesmo que talvez já tivesse lido todos (o que, é claro, nunca vai acontecer, porque a cada promoção eu renovo a pilha gigantesca de livros não lidos, que conservo no plástico até chegar sua vez na fila). Sou daquelas que quando tira férias, pensa: “ótimo! Agora vou poder ler tudo que quero”. Eu vou viajar e a primeira coisa em que penso é em quais livros vou levar comigo. Escolho até pelo clima da região que vou. “Esse combina mais com frio, esse combina mais com praia”. Para uma viagem curta de final de semana não levo menos do que dois. Vou ler todos? Não sei. Mas acho que meu cérebro não pode cogitar ter um tempo livre e não haver uma leitura disponível para acompanhar.

– Eu arrumando a mala.

Enfim, estou para me mudar e, sinceramente, não sei o que fazer! Tenho trabalhado o psicológico e já comecei a dar destino para algumas edições, mas o mar de livros “sem os quais não consigo viver sem” continua enorme. Com certeza todos os livros amados não caberão na casa nova e eu vou precisar dar um destino para os que não forem escolhidos para me acompanhar nessa nova fase. O coração já dói desde hoje (aceito sugestões de como lidar com isso).

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