Filme

O Círculo – o filme

Ir à cabine de imprensa de “O Círculo” (assista o trailer) foi a experiência completa. Na minha época recém formada na faculdade, cobria cinema para variados veículos de imprensa, entre eles dois sites além do jornal no qual trabalhava. Mas quando fui trabalhar com comunicação empresarial, minha ida às cabines ficou resumida a folgas e férias. E de lá para cá, a imprensa em si mudou assim como as cabines. Ao participar da cabine de “O Círculo”, vi um ambiente que era dominado por jornalistas ser ocupado por blogueiros. Isso é ruim? Não necessariamente, mas tem conexão completa com o filme. Calma que eu explico!

O filme – dirigido por James Ponsoldt – é uma adaptação do livro homônimo de Dave Egger (cuja resenha você confere aqui ), publicado em 2013. Basicamente, como a Carol Pinho colocou na resenha do livro, “o Circulo do titulo é uma grande empresa de tecnologia que engoliu todos os grandes players do mercado e é visto como a salvação do mundo”. E todos os jovens do mundo querem trabalhar lá.

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Então seguimos a vida de Mae Holland, interpretada muito bem por Emma Watson (sem sotaque britânico!), uma jovem que está tentando um emprego melhor para poder ajudar a cuidar dos pais, principalmente do pai que tem esclerose múltipla (e é brilhantemente interpretado pelo eterno Bill Paxton). Sua amiga, Annie (vivida na tela pela ruiva maravilhosa Karen Gillan, de “Doctor Who” e “Guardiões da Galáxia”), consegue uma entrevista para ela no Círculo e tudo começa a dar certo para Mae.

Mas Mae, que é bem reservada, se encontra quase que coagida a participar de eventos sociais, redes sociais e dividir partes de sua vida íntima com seus colegas de trabalho e depois com o mundo. E é aí que as coisas saem dos trilhos mesmo!

Mae quer um emprego melhor para ajudar a família, mas também porque quer fazer a diferença. Ela sabe que pode mais e quer usar todo o seu potencial. E não tem nada de errado nisso, muito pelo contrário. Mas limites, minha gente, LIMITES! Para ilustrar melhor: em um dado momento, Mae “se torna transparente” o que significa que a partir do minuto em que ela acorda até ela ir dormir – com exceção de três minutos a cada ida ao banheiro -, sua vida é acompanhada por todo o mundo. Tipo Big Brother em tempo real e em versão mobile! E ela adora a atenção! Quem nunca, não é mesmo?

E é aqui que fiz a conexão com os blogs assistindo ao filme. “O Círculo” critica a prática que muitos de nós temos de compartilhar tudo que fazemos, queremos, temos, sentimos. A prática de vlogar e fazer lives traz muito isso. Nossos snapchats e instagram stories também estão refletidos aqui. Não só é uma crítica a quem se expõe dessa forma, mas também aos que assistem e, querendo colaborar como podem, perdem noção de tudo, de civilidade e até de moral. É uma alienação sem limites!

Essa quase distopia me deixou preocupada porque é MUITO próxima do que vivemos hoje. Na boa? É EXATAMENTE o que vivemos hoje e isso é MUITO preocupante!

Em um momento no filme, o dono da #%*@ toda, interpretado por Tom Hanks (que lembra bastante Steve Jobs e, como sempre, arrasa), diz que “compartilhar é se importar” (Sharing is caring). E eu buguei! Sim, compartilhar é bacana, aproxima pessoas da gente, mas é preciso ter limites! Privacidade é essencial e precisa ser respeitada e é esse limite que não respeitam em Mae e é o que a faz não respeitar a dos outros. É um ciclo (ou seria círculo) vicioso!

E dali em diante, algumas máscaras caem, vidas “perfeitas” se mostram repletas de vícios e o problema escala de uma forma que eu fiquei TENSA!

O Círculo não só prega que tecnologia é capaz de salvar o mundo, mas que saber tudo sobre todo mundo é essencial para melhorar o comportamento das pessoas. Limite e respeito são pontos essenciais que são pisoteados nessa trama. E isso precisava acontecer para chocar o público! SIM! É chocante porque não está acontecendo lá na telona, mas do nosso lado, no nosso celular, no nosso feed do Facebook, no vídeo que vamos colocar no YouTube.

É uma excelente adaptação, mas peca no final. Rola um anticlímax e o final do livro é BEM diferente. Claro que você não vai encontrar spoilers nem aqui e nem na resenha do livro. Somos dessas! Mas vale ler e vale ver!

Enfim, “O Círculo” é um filme redondinho (foi mal o trocadilho) e precisa ser visto pelo maior número de pessoas possível pelo simples fato de que não podemos deixar esse futuro próximo se instalar na nossa realidade. O culto ao nada, à pseudocelebridades e o perigo que existe na tênue linha entre compartilhar e invadir … tudo isso precisa ser debatido. E o cinema, assim como a literatura, pode nos ajudar nessa. Vlogar, blogar e compartilhar é bom demais e apoio muito, mas precisamos ter noção dos nossos limites quanto ao que postamos e ao tipo de conteúdo que consumimos. Aliás, outra dica de filme é “Nerve”. Super recomendo!

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4 thoughts on “O Círculo – o filme
  1. Oiie!

    Hoje haviam me desanimado a assistir com alguns comentários dizendo que o filme era horrível. Olha, eu até entendo que efeitos, ou no caso, o final possam ser ruins, mas dizer que sequer vale a pena ver me soa mal.

    E sua crítica me mostrou isso. Realmente esse assunto precisa ser discutido. Já vi Nerve e realmente trata de um problema atual. A prova disso é o jogo da Baleia Azul 🙁

    Beijos!

    1. Oi, Lê! Sim, é muito atual e precisa ser debatido. Mesmo que não curta algo, acho que é sempre válido indicar as razões para tal, porque o que um não gosta pode agradar outro. Vai ver o filme e forme a sua própria opinião. Mas depois me conta! 🙂

  2. Oi Frini!

    Esse assunto me lembra aquele episódio do Black Mirror, o Nosedive (
    (Temporada 3, ep. 1. Direção: Joe Wright; roteiro: Charlie Brooker, Mike Schur e Rashida Jones).

    Chocantemente real.

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