Conversando com um amigo da Alemanha dia desses, ele me disse que “crítica construtiva” é uma parada estigmatizada por lá e que, caso você não queira criticar algo, você é chamado de “burro” ou “nazi” (escalonou rápido, não é mesmo?). Ainda que de forma contida, ele expressou seu descontentamento com a situação. Isso me fez pensar em sexo. Já explico.
Sabe quando as pessoas falam “Fuck your opinion”? Em inglês mesmo porque na tradução perde um pouco o significado que preciso para desenrolar meu argumento. Quando as pessoas falam isso elas literalmente estão dizendo “foda sua opinião”, “faça sexo com ela”, que tem o mesmo sentido que “fuck yourself!” que significa a grosso modo: “masturbe-se”. Não sou eu que tô relacionando esse assunto com sexo, o mundo já faz isso e de graça.
Então, Vivi, qual é o ponto?
O ponto é: ao dizer que você não pode mais ficar calado, quieto na sua, não querer dar opinião sobre algo, ou, pior, não ter de fato uma opinião sobre algo (oh, o horror!), você é tachado de “nazi” na Alemanha. No Brasil, você é (quando tratado por alguém sutil) “isentão”, mas sei que há nomes piores pra situação. Em lugar nenhum você pode mais ficar quieto. É uma exigência que você saiba de tudo, veja tudo, conheça tudo e tenha opinião sobre tudo. Sei que não é a grande maioria dos humanos que exige isso, é uma minoria, mas todos sabemos que essa minoria é bem barulhenta, chata, incomoda e pode fazer um estrago quando quer, então a gente acaba se dobrando. E isso me fez pensar em uma coisa muito específica: Estupro. Estupro de opinião. E, o pior, nós estamos legalizando o estupro de opinião.
Não importa muito o que eu queira ou pense sobre um assunto, alguém vai querer arrancar de mim o que penso. E não apenas estranhos, isso acontece em ciclos de amizade também, o que me faz pensar em estupro doméstico. Sabe aquela cena clássica da mulher cansada na cama, mas aí o marido chega já chegando e é mais fácil abrir as pernas e deixar rolar do que dizer “não” e arriscar uma discussão?
Ou então “ah, não, mor, tô cansada”, “ah, vai, rapidinho”.
É como eu me sinto, às vezes, quando me vejo numa situação que preciso dar minha opinião, por qualquer que seja o motivo ou a estratégia social, contra a minha vontade.
Chega uma hora que cansa. Vamos legalizar “não sei opinar”. Glória Pires não patenteou nem nada. É seguro usar, prometo. Ok, não é a atitude mais fácil, requer um monte de tipo de coragem pra dizer que não sabe de algo e, de vez em quando, até um desprendimento maior, mas é o mais saudável a ser feito em inúmeras ocasiões, vai.
Eu gosto de ficar quieta em relação a muitos assuntos, principalmente os mais cabeludos, e meu silêncio não é sinônimo de indiferença ou de covardia ou de isenção ou de tolerância ou de intolerância. Às vezes, eu prefiro apenas ouvir. Às vezes, acho que vou contribuir mais para o assunto, se eu ficar calada e aprender mais sobre ele.
Pode haver momentos de indiferença? Sim. Ignorância? Mas é claro!
Mas meu silêncio deve ser respeitado. E mesmo se eu fosse uma celebridade que falasse com milhões de jovens, e soubesse do alcance da minha voz, e mesmo querendo falar o melhor sempre pra espalhar o bem, seria muito mais saudável para todos que eu tivesse noção da responsabilidade das minhas palavras e pensasse muito, mas muito antes de criticar alguém ou alguma coisa, certo?
Essa exigência pela opinião ou, que seja, crítica construtiva, não é apenas desumana, é ilógica. Qualquer um que sabe o significado da palavra “construtiva” sabe que o fator principal é o tempo e, assim como uma carreira, uma crítica demora pra ser desenvolvida.
Quando alguém te oferecer silêncio, ouça. “Não é não”, esqueceu?
Gostei e concordo. O silêncio é uma boa prática do não é do respeito à si mesmo e às suas limitações.