Resenhas

Precisamos falar sobre Frankie

Faz alguns anos que “O histórico infame de Frankie Landau-Banks” está na minha estante para ser lido. Quando comentei sobre o Clube do Livro Saraiva de abril – cujo tema é “Autora, leitora, personagem: a mulher na literatura” – a galera da Editora Seguinte comentou comigo sobre o livro e achou super a ver com o tema. Teremos exemplares para sortear (mais informações sobre o evento no final do post), mas lá fui eu catar o meu exemplar para ler.

Escrito pela MARAVILHOSA E. Lockhart – a mesma criadora do sensacional “Mentirosos” -, traduzido por André Czarnobai e publicado pela Seguinte, o livro é muito, mas MUITO mais do que uma simples história de uma personagem feminina forte.

ATENÇÃO – essa resenha pode conter spoilers porque eu preciso dividir algumas questões com vocês. Então aviso logo! Vou tentar evitar os mais puxados (como o final, por exemplo), mas é preciso adereçar alguns temas e com isso, spoilers poderão ser contados.

Vamos lá!

Frankie começa clichê: no verão de seus 14 para 15 anos, seu corpo resolve acordar e ela se transforma em uma adolescente mega gata. Durante esse verão ela conhece um gatinho no calçadão e tem um momento flerte-envolvido-com-sorvete com ele.

As aulas começam e o gatinho mais popular e fofo e simpático e rico da escola Alabaster (um colégio interno super de elite), Matthew Livingston, nota Frankie pela primeira vez.

AH! E vamos notar um detalhe antes de continuarmos: o nome de Frankie é Francis porque seu pai – Frank – queria um filho e quando notou que não ia rolar, deu o nome de Frankie o mais próximo possível. Chatão, hein?!

Continuando.

Frankie é notada por Matthew e o mais legal é que, embora a narradora em terceira pessoa diga que Frankie é a típica adolescente que tem aqueles risinhos histéricos quando está com vergonha, adora pintar as unhas e ir ao cinema, ela não é afetada na hora de lidar com o gatinho cobiçado. Aqui é a primeira jogada de gênio da autora: a escolha de narração em terceira pessoa ajuda a descrever uma protagonista que se questiona o tempo todo, mas que é completamente coerente. Ela tem dúvidas sobre como agir da melhor forma, mas quando abre a boca para falar, é inteligente, sagaz e engraçada sem ser forçada. E essa mescla é uma delícia de ler e, sinceramente, refrescante! Frankie não é apenas uma adolescente mala e apaixonada. Ela é muito além disso!

O livro é contado em flashback até um certo momento. Ou seja, já sabemos que Frankie aprontou altas traquinagens, mas não sabemos detalhes, o que aconteceu para isso ocorrer nem como estão as coisas no momento. A atenção está presa aqui e as páginas são viradas rapidamente.

A história é simples porque o que conta nas entrelinhas é mais complexo.

A simplicidade é a seguinte: Frankie curte Matthew e o segundo gatinho – o do flerte-com-sorvete-no-calçadão – é Alfa, o melhor amigo de Matt e o maroto alfa (piadinha!) da escola! E é aí que as coisas se complicam. Por quê? Porque os dois disputam Frankie? NOPE! Porque Frankie e Alfa disputam a atenção de Matt!

E é aqui que A Leal Ordem dos Bassês entra em questão.

Esse é o nome da sociedade secreta que o pai de Frankie integrou enquanto estudou na Alabaster e da qual a menina aposta que Matt e seus amigos fazem parte. Ela está tão envolvida com o mundo dos meninos – o coleguismo deles, a cumplicidade – que tudo que ela quer é ser um Bassê, mas não pode. A Ordem é só para meninos.

E a todo momento que ela quer ficar namorando Matt de boas, Alfa tira o amigo dos braços da namorada para aprontarem algo pra Ordem. CLARO que Frankie sabe disso porque se virou para descobrir, porque os meninos não contam NADA para ela. A sociedade é secreta, afinal!

Enfim, Frankie cansa de ficar para segunda opção e começa seu próprio plano para integrar cada vez mais o mundo masculino da Alabaster e impressionar os meninos como um deles.

Sobre isso eu vou parar por aqui para não contar mais detalhes.

Então vamos falar sobre Frankie.

Frankie é aceita pelos meninos sem segundas intenções, muito pelo contrário. Em nenhum momento outro carinha tenta se “apoderar” dela. Mas será que isso se dá porque ela está com Matt e o respeito é com ele ou porque a respeitam? Confesso que fiquei esperando Alfa se engraçar, mas nunca ocorreu, embora seja mencionado de forma sutil que ele queria muito. Curti essa mudança, mas confesso que fiquei me questionando sobre a motivação dele. E é o mesmo questionamento válido de Frankie.

Embora seja extremamente inteligente, engraçada, sagaz e linda, Frankie se recusa a ser um acessório para Matt. Que fique claro que ele nunca a trata mal ou a diminui. Ele a trata como um namorado comum, jovem e que às vezes escolhe seus amigos a estar com ela. Nada que ninguém reconheça como normal. Mas Frankie teme tanto ser vista como um bibelô bonito, mas sem maior valor do que sua aparência, que a menina surta ás vezes. O que é extremamente coerente e isso é ótimo de se ler. Frankie não é perfeita, nem mala, nem show. Ela é perfeitamente imperfeita e isso é uma beleza de acompanhar.

Mas uma coisa que nossa protagonista menciona o tempo todo é o coleguismo dos meninos. Ela valoriza demais isso e não quer perder esse vínculo de maneira nenhuma. E esse medo de perder a faz questionar suas decisões e, ao meu ver, não deveria. Ela vai ao extremo para se provar para eles, para que eles a valorizem como ela os valoriza. Mas é desnecessário! A dinâmica de amizade de meninos e de meninas é diferente e deveria ser agregadora. Acho que se a tal Leal Ordem dos Bassês não fosse só para meninos, Frankie não se sentiria tão excluída. Então ela mistura uma coisa com a outra e acaba perdendo mão. Ou será que não?

Aqui é o momento que conto o final do livro para vocês. Ok, não vou contar, mas vou dar dicas, então pulem se não quiserem saber.

O final de “O histórico infame de Frankie Landau-Banks” é tudo menos convencional. Não existe escolha entre um gatinho ou outro. Não existe epílogo de tantos anos depois. E isso não quer dizer que esses finais sejam ruins. Não são! Só não são dignos de Frankie Landau-Banks.

O final do livro traz empoderamento feminino que vem, infelizmente, a um certo custo. Não dá para se ter tudo e Frankie tem apenas 15 anos. Quero acreditar que ela vai saber dosar suas escolhas e suas “batalhas” daqui para frente. Mas o salto que deu no livro é muito interessante de se ler e de se refletir e debater. Será que se as demais personagens femininas fossem mais como Zada (irmã de Frankie que aparece muito pouco, mas que tem grande impacto positivo) a protagonista seria mais comedida? Será que a caracterização exagerada de algumas personagens secundárias não foi feita para criticar esse tipo de pensamento?

Não sei. Só suponho. E dou a dica: leiam “O histórico infame de Frankie Landau-Banks”.

Vou sortear dois exemplares no Clube do Livro Saraiva de abril, que acontece no sábado, 16. Clica aqui para mais informações e vamos refletir. (https://www.facebook.com/events/226282494392599/ )

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