O livro de Alyson Richman começa em uma festa de casamento onde o avôs do noivo e a avó da noiva se encontram pela primeira vez e se reconhecem. O avô fala “Lenka. Sou eu, Josef, seu marido”. Desse momento em diante somos transportados para os horrores da Segunda Guerra Mundial e o que fez com que esses dois se perdessem no tempo. Não há nada de inovador na narrativa e mesmo assim ela é envolvente.
“Um Amor Perdido” (tradução de Ana Carolina Mesquita) reconta como dois jovens tchecos se apaixonaram, casaram e foram separados pela Segunda Guerra Mundial. O romance começa no entre guerras e funciona para ambientar o leitor em como viviam os judeus em uma Praga pré ocupação nazista. O conforto, a despreocupação e, principalmente, dois jovens apaixonados vão nos guiando lentamente por um mundo que começa a mudar e a endurecer. É quando Lenka e Josef se separam que o livro ganha em força. Cada parte do casal vai contar uma realidade inerente aos que sobreviveram a guerra: Josef a saudade e a culpa dos sobreviventes e Lenka as agruras de sobreviver no dia-a-dia em uma guerra.
A narrativa de Lenka é mais forte, impressiona mais talvez por meu pouco conhecimento sobre o Terezin, um campo de concentração e não de extermínio montado pelos nazistas na Tchecoeslováquia. Como Lenka trabalhava no campo, como ela desenhava, como, mesmo em meio a privações, a vida seguia. A descrição de como os artistas faziam questão de retratar todo o horror que os cercava e como muitos desses trabalhos sobreviveram para nos lembrar sempre o que aconteceu. É impossível não se emocionar com as perdas que Lenka tem ao longo dos anos em campos de concentração nazistas e com tudo que ocorre quando os nazistas começam a realizar que a guerra está perdida.
O que Josef conta é a parte menos explorada em narrativas de guerra: a culpa dos sobreviventes. Josef foge da Europa antes da guerra explodir e isso não significa que ele não tenha perdas enormes e que o peso de ter conseguido fugir não o esmague e o molde. A vida de Josef nos EUA é confortável, ele não passa privações mas é assombrado pelo fantasma da sua família, pela culpa de ter se separado de Lenka. Josef continua buscando os seus mesmo depois do final da guerra, continua parado no tempo buscando uma vida que foi destruída em outro país.
Richman transforma em algo envolvente uma história já contada milhares de vezes e isso é um grande mérito do livro. O romance de Lenka e Josef é apenas um pano de fundo para mostrar os horrores da guerra. O inacreditável é que precisamos, mais do que nunca, lembrar as pessoas o que o antissemitismo, o nacionalismo exacerbado e o totalitarismo são capazes de fazer.
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